sexta-feira, junho 22, 2007

Mark Blaug [5]


     Mark Blaug

P - Você defende que esses modelos requerem pressupostos altamente simplificados para poderem funcionar. E aponta que, se as assumpções forem simplificadas, as conclusões não se aguentam. Mas os economistas tentam simplificar essas assumpções e testar as suas conclusões?

MB - Sim. Há muitos economistas que procuram simplificar as assumpções. "Vamos ver se conseguimos simplificar as assumpções - será que as conclusões se mantêm firmes?" Mas isto pode tornar-se alarmante porque, uma vez mais, tudo o que se faz é trabalhar um pouco mais o modelo matemático para que dê certo. Eu penso que esta forma de pensar a modelização económica é enganadora. Não sou contra a modelização, nem sequer estou contra a matemática. Pode ser uma ferramenta muito útil, mas não como um fim em si. Não pode ser o modo de julgar, por exemplo, se vale a pena ler um artigo ou não, se vale a pena escutar um argumento ou não. O que eu tento fazer é alterar a prioridade que os economistas atribuem a diferentes tipos de Economia. Quero dizer, eles atribuem enorme prestígio a qualquer tipo de teoria económica que seja expressa em termos matemáticos, mas quase nenhum a um argumento de natureza histórica ou a um estudo de caso. Isto é uma maneira arguta de arregimentar evidência empírica para provar uma dada teoria económica. É isso que está errado.

P - Que exemplos lhe ocorrem de temas reais onde este modo de pensar a Economia levou a erros de políticas públicas ou a erros de avaliação?

MB - Não temos tido muito sucesso na avaliação do problemas de transição na Europa Oriental, porque não pensamos em como as economias de mercado realmente funcionam ou sobre o que é necessário para que os mercados funcionem. Por isso os nossos conselhos aos governos da Europa Oriental têm sido muito toscos, porque temos de compreender como é que se devem criar os mercados e como devem ser estabelecidos os direitos de propriedade. Ocupamos pouco tempo a estudar as estruturas institucionais nas quas os mercados estão embebidos e sem as quais não podem funcionar. E, por isso, ou não demos conselhos, ou damos conselhos maus e enganadores aos governos da Europa Oriental. O problema de transição da Europa Oriental fez-me ficar, bem como a outros economistas, extremamente atento a quão desequilibrada tem sido a nossa abordagem ao mecanismo de mercado e ao capitalismo. Criar mercados não se resume ao modelo de equilíbrio geral de Gerard Debreu. Isso não ajuda muito. De facto, é provavelmente mais enganador do que outra coisa, para pensar estes problemas.

P - Pode dizer-se o mesmo acerca da actual crise financeira da Ásia ou, digamos, das desigualdades de rendimento na América?

MB - O problema dos Tigres Asiáticos é em parte o mesmo: não damos muita importância às economias em desenvolvimento. Era um assunto importante na Economia dos anos 50 e 60, mas entrou em declínio quase absoluto. Uma das causas deste declínio é de que não é uma boa área para se trabalhar, no caso de querermos produzir peças de modelização matemática elegantes e tecnicamente sofisticadas. Por isso muitos jovens economistas consideram que não é uma área excitante para trabalhar. Não se pode ser promovido a publicar artigos sobre Economia do Desenvolvimento. Eles admitem que são problemas importantes do mundo real, mas que não é um caminho que leve muito longe. Não é o modo de construir uma carreira numa área que preza a elegância técnica.

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