domingo, junho 10, 2007

Mark Blaug: entrevista [1]


       Mark Blaug

P - Penso que é justo dizer-se que você é o líder dos que defendem que a fraqueza da Economia reside em grande parte da teoria não ser falsificável. Se não se pode refutar algo, como se pode demonstrar que pode ser verdadeiro? Qual é a sua definição de falsificabilidade?
MB - Ao confrontar uma teoria, deve ser possível pensar em evidência que, se encontrada, possa refutar a teoria ou leve ao seu abandono. Compreender-se-ia que estava errada. Seria refutada por alguma evidência. Se, por exemplo, alguém diz: "Acredito em tal e tal, e não há evidência que me faça alguma vez abandonar esta teoria", então, seja qual for o grau de crença, não é ciência, porque as crenças, ou teorias, ou hipóteses científicas, ou o que lhes queira chamar, devem ser refutáveis, pelo menos em princípio. Aqui é que começam os problemas.
P - Foi Karl Popper, o filósofo, quem originou esta crítica da Economia?
MB - Não, ele disse isso acerca de outras áreas. Disse muito pouco sobre Economia, e o que disse foi mais adulatório do que crítico. Não, ele nunca criticou a Economia. Popper era um filósofo da Ciência. Muitas das aplicações das suas ideias ocorreram na Física, e ele estava particularmente interessado na Teoria da Relatividade, na Mecânica Quântica, e por aí. Tanto quanto lhe interessaram as ciências sociais, era o género da "grande" ciência social. Ele escreveu "The Open Society", que tinha três grandes inimigos: Platão, Hegel e Marx. Mas ele não se interessou particularmente pela Economia e disse muito pouco acerca dela, e algumas das coisas que disse geraram mais perguntas do que respostas.
P - Quem foi então a primeira pessoa a levantar o problema da falsificabilidade na Economia?
MB - Terrence Hutchison, que ainda muito jovem escreveu "The Fundamental Postulates of Economic Theory". Neste livro ele criticou a assumpção do conhecimento perfeito em muita da teoria ecnomica e introduziu o pensamento de Popper. Hutchison, que está agora no início dos seus 90 anos, manteve-se sempre um grande discípulo de Popper e da aplicação das suas ideias à Economia. Eu segui-lhe os passos. Foi uma espécie de mentor para mim.
P - Estudou com ele?
MB - Foi um dos meus supervisores de doutoramento na Universidade de Columbia, que visitou. Eu tive dois supervisores: George Stigler e Terrence Hutchison. Faziam um contraste maravilhoso. Mas agora há muito de Popper em Stigler. Por isso, na realidade, devo bastante a ambos.

[ continua ]

Entrevista da Challenge, May-June, 1998

Notas:
  • Sobre o falsificacionismo, leia-se esta entrada de David Papineau em A Arte de Pensar.
  • Falsificabilidade: propriedade que um enunciado ou uma teoria têm de ser refutados pela experiência.
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