quarta-feira, junho 20, 2007

Mark Blaug [4]


     Mark Blaug

MB (...) Os debates nas revistas científicas que são expressos matematicamente são mais fáceis de avaliar, considerando que se pode ver se a pessoa escreveu realmente um modelo matemático consistente. Isto é mais fácil de avaliar sem ambiguidade do que uma peça de sabedoria económica expressa em prosa, que é de facto difícil. Duas pessoas podem facilmente discordar se um trabalho em prosa tem valia ou não. E estes artigos de revistas científicas, cujo número atinge as centenas — existem três centenas de revistas de Economia em inglês, talvez mais, publicando duas, três ou quatro edições por ano — têm de ser avaliados. A maioria deles é avaliada por voluntários que têm de emitir um parecer em pouco tempo (a partir do momento que se entra nestas listas lêm-se dúzias de artigos, por vezes numa só semana) É muito mais fácil se partilharmos uma comunidade de padrões, essencialmente padrões matemáticos. Mas isto não explica como é que tudo começou. E eu realmente não o compreendo.

P - O computador ajudou a reforçar esta tendência? Ao fim e ao cabo, as regressões agora são muito fáceis de fazer.

MB - Sim, na medida em que criou, curiosamente, um género de econometria que já não se interessa muito pela evidência empírica mas pela teoria econométrica. A Econometria tornou-se quase num espectáculo, enquanto teoria económica, e é uma teoria de natureza estatística. Sim, os economistas fazem regressões e tudo isso. Mas não é isso que enche as revistas científicas. Elas estão cheias é de elegantes análises estatísticas, um modo muito mais elegante de análise de séries cronológicas que constituem quase um fim em si mesas.

P - Você tem feito algumas afirmações categóricas de que os economistas não dão atenção às implicações ou aplicabilidade dos seus modelos. Mas existem algumas excepções evidentes?

MB - Claro que sim. Se você quiser expressar alguma crítica que tenha impacto em dez ou vinte mil praticantes espalhados pelo mundo, terá de exagerar um pouco para se fazer notado. Se modificar muito, não sobra nada.

P - O que é que há na tese de Arrow-Debreu, referida no seu artigo na 'Challenge', que influenciou tanto a profissão?

MB - Era extraordinariamente sofisticada em termos matemáticos, e mesmo tendo sido publicada há quarenta e quatro anos, é um artigo elegante que usa a Teoria dos Jogos, que era na altura uma novidade. Usava a Teoria dos Jogos dum modo que ninguém esperaria que pudesse provar a existência do equilíbrio geral. Era elegante, era rigorosa, e parecia ser a solução de um problema. Será que o equilíbrio geral existe realmente? Em termos um pouco mais técnicos: pode o equilíbrio multi-mercados existir realmente numa economia? Parecia ser a prova disto. Afinal, Walras tinha defendido isto oitenta anos antes mas nunca o tinha conseguido provar de modo satisfatório. Por isso parecia ser um exemplo maravilhoso de uma elegante prova quase matemática, e parecia elevar a Economia instantaneamente ao nível da Matemática, e certamente da Matemática Aplicada.

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