segunda-feira, junho 22, 2009

Manifesto dos Economistas


     Voltamos à velha questão: já sabemos o que não queremos, mas não ainda o que queremos. O Manifesto dos Economistas, lá bem no fundo, diz apenas que é preciso pensar muito bem onde aplicar os recursos. Pode até parecer que estão contra os grandes investimentos, mas não foi isso que escreveram: admitem que esses investimentos possam ser realizados, mas só depois de muito bem estudados — pelo que a proposta, em última análise, se resume a um adiamento das despesas previstas.
     Gritada assim abruptamente, a frase "isso tem de ser muito bem estudadinho antes de se avançar", até pode dar a ideia de que se quer fazer uma grande reforma nas políticas governamentais. Ou, recorrendo a linguagem mais tecnocrática, até soa a um apelo à mudança de modelo económico: "É preciso mudar de vida", parece ser a mensagem. Mas será? Quantos destes economistas defenderam, nos últimos tempos, a mudança do nosso modelo de desenvolvimento? Talvez apenas um: Medina Carreira, e nem disso tenho a certeza.

6 comentários:

Anónimo disse...

Oh Deus parem de chamar Economistas a gente que não é Licenciada nem tem nenhum curso de Economia ... isto é crime, da mesma forma que eu que não tenho nenhum curso de médico, engenheiro ou advogado me posso intitular profissional daquelas áreas.
Medina Carreira e outros que tais são uns "curiosos" da Economia e mandam umas bocas sobre tal !!!

João Fontes disse...

O Manifesto dos Economistas é sobrescrito por alguns dos maiores economistas tanta da área académica como profissional de portugal. Apelidá-los de curiosos não só é falso como desvia a atenção daquilo que realmente importa: repensar a necessidade de fazer investimentos que podem ou não ser fundamentais para Portugal (o que é o objectivo do Manifesto).

Anónimo disse...

Em política "o que parece é". Penso que esta sentença era da autoria dum ilustre, para muitos saudoso, beirão. Ora, a intervenção destes senhores economistas situa-se, não no campo "técnico" (???), mas no terreno da acção política e, pelo contexto e forma em que é produzida, da acção politico-partidária, e, no concreto, insere-se, ou favorece, a agenda de um partido. Ora, como diz o ditado, "quem não quer ser lobo não lhe veste a pele". Ora, Ora ...

Joao Augusto Aldeia disse...

O facto de uma ideia — ou um manifesto, ou uma qualquer tomada de posição — favorecer a agenda de um determinado partido não é, só por si, prova de que esteja certa ou errada. Tal argumento é apenas a falácia ad hominem transposta para o nível partidário. Liberdade de pensamento é poder aceitar-se uma ideia ainda que não favoreça a agenda do partido a que pertencemos ou com quem simpatizamos, mas essa liberdade é muito difícil de atingir e, sobretudo, de defender.

Anónimo disse...

Dr Aldeia

Independentemente da relativa heterogeneidade do grupo de economistas, mesmo face à questão dos grandes investimentos, a ideia que passou para o "povão" foi a de que um vasto grupo de prestigiados economistas é contra ou pôs em causa a indiscutibilidade dos mesmos. Ora isto favorece objectivamente a propaganda eleitoral do universo cds/psd. Pouco interessa o que possa distinguir o dr. Silva Lopes do dr Cadilhe, o dr. Moreira do dr. Campos Cunha etc.! Em termos de "humores" politico/eleitorais parece-me que a iniciativa produz um som de fundo que se soma, ao menos parcialmente, ao daquele sector. Os argumentos de natureza técnica não adiantam nada. Quem tem alguma sensibilidade à questão já os teria equacionado, não são novidade nenhuma. Como se viu não faltam outros, centenas se for necessário, "cientistas sociais" que terão opinião diferente ou totalmente oposta. Bom, é o que me parece, hoje ..

NG

Joao Augusto Aldeia disse...

NG:
Não questiono nada disso, mas não se iluda: não está a falar das ideias lá expostas, está a falar de outra coisa (do que "parece", das conotações, etc.) Conheci há muitos anos um tipo que chamava a este tipo de conversa "moinhos de vento": fala-se acerca de tudo o que anda "à volta" e ignora-se a questão central.

a) o primeiro comentador diz que há lá gente que não é economista; é claro que se tratam de economistas, ainda que a sua formação de base seja de Direito. Certamente desconhece que o ensino de Economia a sério Portugal começou nas faculdades de Direito, e continuou mesmo depois de aparecer o ISCEF; vale a pena relembrar o episódio em que o professor Teixeira Ribeiro disse ao António Manuel Pinto Barbosa: «Você não percebe nada disto. Estude Economia a sério. Leia os clássicos» — conselho que ele seguiu e lhe permitiu revolucionar o ensino em Económicas. Quem não conhecem esta história, pobre economista é.

b) o segundo comentador respondeu adequadamente ao anterior.

c) o terceiro comentador, citando Salazar (e muito do ruído que se ouve por aí, mesmo em gente de esquerda, que também ignora a história, é reprodução do homem das botas) insinua que o manifesto é apenas um favor ao PSD, mas não discute uma única ideia do mesmo. Fica a dúvida se saberia, ou se está para perder tempo com isso.

d) o último comentário refina a "tese" do anterior: "cheira PSD", logo, está mal.

Até parece que estou aqui a defender o manifesto quando, na realidade, o critiquei: por não ter uma ideia nova, uma proposta de mudança, avançando apenas com uma espécie de "princípio de precaução", coisa de bom-senso no meio de uma crise cujo fim não se adivinha com clareza.

E o que dizem estes nossos comentadores? (cujos comentários, no entanto, agradeço) dizem que estas ideias parecem favorecer a agenda do PSD, logo, não lhes dão crédito. É isto um debate de ideias?