quarta-feira, março 18, 2009

Subsídio-dependência, Consumo, Mulheres:
Pecados de Ontem, Virtudes de Hoje.


     Em tempos a Religião propugnava a salvação pela abstinência. Com a recente crise parece que a salvação poderá estar no pólo oposto: consumo, consumo, consumo! Se assim for, será uma grande ironia, pois continuamos a ouvir que a nossa economia anda a ser — erradamente — sustentada por um consumo suportado em endividamento externo (... volta Keynes, que estás perdoado...)
     Recentemente, as empresas de comunicação, através da Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social (CPMCS), apresentaram ao Governo português um "Plano de Incentivos Fiscais ao Investimento Publicitário". A ideia é que o Governo conceda incentivos, em matéria de IRC, às empresas que aumentem o seu investimento publicitário durante este ano. Segundo João Palmeiro, presidente da CPMCS, «Não se trata de mais um subsídio, mas de um incentivo às empresas que, em vez de se deixarem mergulhar na crise e começar a cortar pelo mais fácil (a publicidade) façam um esforço de investimento num sector que, através das várias plataformas de comunicação, atinge directamente o cidadão e lhe pode induzir esperança.» As palavras "investimento" e "esperança" estão aqui simpaticamente colocadas (ah, o marketing, o marketing!...), sem dúvida, mas trata-se apenas de um incentivo ao consumo através de um subsídio, ainda que indirecto, retirado ao Orçamento de Estado.

Outra novidade pró-consumo é dada pelo The Economist:
"Na América, onde os consumidores femininos representam mais de 80% das compras de uso geral [discretionary], as empresas começaram a dotar os seus produtos e mensagens com apelos ao sector feminino, num esforço para ampliar as vendas. A Frito-Lay, uma companhia de snack-food detida pela PepsiCo, lançou uma campanha designada "Only In A Woman’s World", para convencer as mulheres de que as batatas fritas e as pipocas não são apenas para adeptos de futebol masculinos. A OfficeMax, segundo maior fornecedor de artigos de escritório nos EUA, redesenhou os seus bloco-notas e suportes de ficheiros para atrair as mulheres e desenvolveu anúncios encorajando-as a tornar os seus cubículos mais coloridos. Pela primeira vez, a McDonald’s patrocinou a New York Fashion Week, em Fevereiro último, promovendo uma nova linha de bebidas para mulheres."     »»»

3 comentários:

Anónimo disse...

De vez em quando alguém acorda de manhã e tem a ideia peregrina de reduzir os impostos sobre o sector X, que seria um excelente incentivo para o sector. Depois explica nas rádios, com tom de quem acabou de fazer a descoberta, que isso causaria um ciclo virtuoso de reinvestimento que até beneficiaria o Estado*.
Desta vez foi a CPMCS...
Amanhã será outro qualquer.

Joao Augusto Aldeia disse...

No sector da Comunicação há ainda outra notícia que, a confirmar-se, será muito preocupante: o Governo teria preparado para meados de 2008 a abertura de um site onde seriam publicados os Editais e Avisos da administração pública, substituindo as páginas (por vezes cadernos de várias folhas) que enxameiam muitas publicações periódicas. Para além da poupança em dinheiros públicos, ganhar-se-ia em eficácia pois os cidadãos e as empresas perderiam menos tempo nestas consultas. Ao que consta, a coisa foi colocada em banho-maria por causa do rombo que daria na imprensa.

Depois de saber disto, e de cada vez que encontro páginas com este tipo de informação burocrática nos jornais, fico a pensar em quanto do nosso dinheiro poderia ser melhor utilizado, para além do impacto ambiental (positivo) decorrente de menos papel e tintas produzidos - e deitados depois para o lixo.

CS disse...

Eu neste momento penso que o risco é a regulação recuar em vez de avançar como querem alguns: http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/03/regulacao-financeira-agora-o-argumento.html