Em 1970 o Ginásio Clube do Sul comemorou o seu cinquentenário. No âmbito das comemorações foram organizados uns Jogos Florais Juvenis, sob o lema: "Tem a Palavra a Juventude". Os vencedores receberam os prémios numa sessão cultural referida na edição do Jornal de Almada de 6 de Junho, e nesta mesma edição foram publicados os trabalhos premiados, entre os quais se conta um pequeno ensaio (na altura dir-se-ia "redacção") de um menino de 13 anos, José Manuel Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia.
Tendo como título "A Escola como Meio de Promoção Social", o artigo começa por referir que "Grandes homens idealizaram e continuam a idealizar a chamada «sociedade ideal». Mas, por muito geniais que sejam os homens que pensam numa sociedade melhor, a verdade é que não passam de homens e os planos por eles tão genialmente concebidos são muito dificilmente postos em prática".
Derivando depois para o papel da Escola, que o menino Durão Barroso enaltece, apresenta exemplos sobre a importância informativa e formativa de certas disciplinas, tais como a Geometria, a qual "educa o espírito, modera-o, torna as pessoas mais sensatas e fá-las fazer afirmações unicamente quando as podem provar." (*)
O menino José Manuel talvez não tivesse ainda estudado para o exame de Geometria, porque logo a seguir faz uma afirmação difícil de provar: "É na escola, como se sabe, que surge a verdadeira camaradagem e convívio e é assim que meninos pequeninos, que dantes viviam presos ao amor maternal, são agora mais sociáveis."
Será que a escola faz os meninos mais sociáveis do que o ambiente familiar? Quase que se fica na dúvida, depois de ler o apelo com que o menino Durão Barroso finaliza o seu ensaio: "termino pedindo a todos, rapazes e raparigas, que se compenetrem da missão que a sua geração tem a realizar e que enfrentem a escola com uma cara menos enfadonha e aterrorizada."
Digam lá se não era já um discurso de líder? Uma coisa é certa: para um menino de 13 anos, em 1970, era uma bela prosa.
(*) Algumas pessoas argutas não deixarão de relacionar esta afirmação com a famigerada Cimeira dos Açores, para acabar com as "armas de destruição maciça" no Iraque, mas é preciso ter em conta que a Geometria do século XXI é muito diferente daquela outra: trata-se agora da denominada "Geometria variável"... Lembram-se, decerto, do que costumam responder os feirantes quando algum jornalista lhes pergunta quanto é que auferiram: «Bem, isso é muito variável». Ora aí está.
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