«Ignorar o trabalho doméstico distorce as estatísticas do crescimento e rouba auto-estima a quem fica em casa - na sua maior parte, mulheres
O trabalho doméstico constitui uma parcela importante do produto de todas as nações, no entanto não é reconhecido quando se faz a medição de bens e serviços para cálculo do produto nacional bruto. Isto subavalia a contribuição das mulheres., uma vez que elas são responsáveis pela maior parte do trabalho doméstico.
As famílias e outros lares são, na realidade, pequenas fábricas que, mesmo nas nações mais avançadas, produzem muitos serviços e bens valiosos. Cuidam das crianças, preparam refeições e fornecem abrigo. Cuidam de doentes, dão apoio e outra assistência aos idosos, e desempenham muitas outras tarefas úteis.
As mulheres contribuem com cerca de 70% do total de tempo gasto nestas tarefas - mesmo em nações igualitárias como a Suécia. Elas fazer virtualmente todo o trabalho doméstico em nações mais pobres, como a Índia. Alguma feministas argumentam, com lógica, que a inclusão do trabalho doméstico no PNB aumentaria a "consciência" das mulheres, especialmente no mundo menos desenvolvido onde as mulheres são pior tratadas. Isso ajudaria a aumentar o seu poder negocial no casamento, uma vez que muitas mulheres "ganhariam" mais do que os seus maridos se a sua contribuição em trabalho doméstico tivesse um valor monetário. Porém, outras feministas não defendem o cálculo explícito da produção das domésticas, porque entraria em conflito com o seu programa de tirar as mulheres de casa, colocando-as na força de trabalho.
Mas é altura de reconhecer o trabalho doméstico como fazendo parte dos bens e serviços do PNB de uma nação. As longas horas passadas sugerem que a produção realizada em casa representa uma importante percentagem do produto total de todos os países. Afinal, quando uma família contrata alguém para tratar das crianças, limpar a casa e cozinhar, esse trabalho entra para as estatísticas do PNB. Quando é feito por um familiar, não é considerado.
Há várias maneiras de quantificar e medir a produção doméstica. Embora o PNB apenas inclua a produção de bens e serviços que são vendidos e comprados, incluem também um valor para as casas ocupadas pelos proprietários, usando o valor das rendas para casas que têm dimensão e equipamentos equivalentes. O valor do trabalho doméstico poderia ser medido pelo que custaria a sua aquisição no mercado para substituir as tarefas dos pais.
Estes métodos têm sido utilizados por Robert Eisner da Northwestern University no seu cuidadoso estudo "The Total Incomes System of Accounts". Eisnes calcula que o valor imputado de produção doméstica nos EUS excede mais de 20% do PNB de meados dos anos 40 até ao início dos anos 80 -o último ano que ele calculou. Cálculos menos precisos feitos pela ONU no seu último Relatório do Desenvolvimento Humano indicam que a produção doméstica vale mais do que 40 % da produção mundial.
A omissão do trabalho doméstico no cálculo do PNB distorce os indicadores do crescimento económico. O grande aumento da participação de mulheres casadas no mercado de trabalho, durante as últimas décadas, foi obtido à custa da redução do tempo que essas mulheres ocupavam em trabalho doméstico não remunerado. O rápido aumento do PNB durante estas décadas negligencia o importante declínio do tempo de trabalho em casa.
A substituição do trabalho doméstico por trabalho de mercado é claramente a razão para a rápida expansão dos sectores de cuidados infantis desde os finais dos anos 70. As mulheres reduziram o tempo que trabalhavam em casa para os seus filhos, contratando outras mulheres para o fazer.
A minha colega Sherwin Rosen (1) da Universidade de Chicago estudou uma situação na Suécia em que o sector dos serviços de cuidados infantis é invulgarmente grande, em parte porque é subsidiado pelo governo. O estudo não avalia se as crianças são afectadas quando as mães trabalham. No entanto, mostra que estes subsídios causam importantes ineficiências ao induzir artificialmente muitas mulheres a entrar no mercado de trabalho. Os subsídios baixaram os preços dos serviços de cuidados infantis abaixo do seu custo real. Eu acho estas conclusões convincentes, mas elas foram muito contestadas na Suécia porque numerosos grupos pretendem "nacionalizar" a família, fazendo com que o governo fique responsável pelos cuidados infantis. Pretendem encorajar as mães a entrar no mercado de trabalho para que tenham de contratar outras mulheres para tomar conta dos seus filhos.
A inclusão do trabalho doméstico no cálculo do PNB faria aumentar a auto-estima das mulheres e homens que ficam em casa a tomar conta das crianças e a fazer outros trabalhos domésticos. Também forneceria uma imagem mais adequada do PNB e do crescimento e poderia conduzir a diferentes interpretações das políticas públicas que se reflectem na afectação de tempo entre trabalho doméstico e trabalho no mercado.»
Gary Becker, Business Week, Outubro de 1965
(1) Sherwin Rosen faleceu em 2001.
quarta-feira, março 08, 2006
Trabalho doméstico
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