sexta-feira, novembro 18, 2005

Este é o nosso Fado

Miguel Lebre de Freitas«José Tavares demitiu-se, ontem, da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico e será substituído por Miguel Lebre de Freitas, até agora director do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e da Inovação. A saída do coordenador do Plano Tecnológico, apresentado como peça-chave da política económica do Governo, não foi explicada mas era conhecida a existência de indefinições e de dificuldades de coordenação entre os vários ministérios envolvidos. [...] O esforço do Governo em evitar a descredibilização do Plano Tecnológico era, ontem, evidente. No final do Conselho de Ministros, quando confrontado com as primeiras notícias sobre a demissão de José Tavares, o ministro da Presidência procurou desde logo desvalorizar os sucessivos adiamentos na sua apresentação. Pedro Silva Pereira negou ainda existência de "qualquer conflito de competências", assegurando que este "continuará sediado no Ministério da Economia e Inovação".» - "Jonal de Notícias".

Tudo indica que a demissão de José Tavares é apenas a ponta o icebergue de problemas mais profundos: a resistência por parte da estrutura administrativa e de poder ao desenvolvimento de uma estratégia inovadora. Ao longo dos meses em que, depois de aprovado pelo Governo, o Plano Tecnológico se tem mantido paralisado, têm sido constantes as notícias de conflito relativas ao respectivo controlo, nomeadamente entre os ministros Mariano Gago e Gomes Pinho. O Plano envolve políticas e programas transversais que interceptam a estrutura ministerial e, como é sabido, isso é equivalente a mexer num vespeiro.

Por outro lado, tendo a região de Lisboa perdido o direito aos fundos comunitários, o Plano Tecnológico apresenta-se como um eldorado (ou uma tábua de salvação, conforme a óptica) para muitas empresas da região, razão pela qual os usuais conflitos sobre a gestão dos programas comunitários se podem ter deslocado para esta frente de batalha.

O facto de Miguel Lebre de Freitas ser um especialista da área financeira com grande sensibilidade para o cumprimento das metas de convergência nominal (veja-se o seu artigo "Défice de disciplina ou a disciplina do défice?") pode também ter contribuido para a sua escolha. Será Miguel Lebre de Freitas um adepto do "Choque, sim, mas devagar"?

O Plano Tecnológico foi aprovado pelo Governo em 27 de Março do corrente ano.

O demitido José Albuquerque Tavares, de 39 anos, é professor na Universidade Nova das cadeiras de macroeconomia e macroeconomia avançada. Fez o doutoramento (1998) em Harvard, nos EUA, com uma dissertação sobre "Ensaios sobre Democracia, Política Fiscal e Crescimento Económico". As suas áreas principais de investigação têm sido o crescimento e o desenvolvimento económico, a política orçamental e a economia política.

O nomeado Miguel Lebre de Freitas, também formado na Nova e com um Mestrado em Economia, é, para além do seu cargo no GEEP do Ministério da Economia, docente da Universidade de Aveiro, sendo a sua principal área de investigação a Economia Monetária Internacional. No Pura Economia já tinhamos comentado um seu artigo de opinião de 2002 no post "Um manifesto anti-fado", artigo onde se podia subentender uma ligeira subalternização do investimento em tecnologia ao cumprimento das metas financeiras do Estado:
«A economia portuguesa tem ainda muito a ganhar com a difusão tecnológica, mas a política económica tem um papel crucial. Por isso, não podemos ser tolerantes com actuações negligentes, mais ou menos apoiadas na convicção de que a economia portuguesa se encontra num processo exógeno ou automático de convergência. Em matéria de convergência não há destino.»
Página de M.L.Freitas

Aguarda-se que o blogue Plano Tecnológico comente a notícia.

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