segunda-feira, setembro 19, 2005

Eventos raros e o "Equity Premium Puzzle"

A expressão "Equity Premium Puzzle" traduz o "misterioso" diferencial entre a rendibilidade de títulos do Tesouro (usualmente baixa) e de acções (usualmente mais elevada) - diferencial que não parece ser suportado pela Teoria. O puzzle pode ser equacionado deste modo: "porque é que os investidores não rejeitam os títulos do Tesouro, de baixa rendibilidade, optando antes por acções, movimento que conduziria ao aumento do valor das acções e à subsequente diminuição da sua rendibilidade?"

Este quebra-cabeças tem gerado alguma literatura, sendo muito citado o artigo de Mehra e Prescot "The Equity Premium: A Puzzle", de 1985. Um destes autores, Rajnidh Mehra, escreveu recentemente (2003) o artigo "The Equity Puzzle: Why Is It a Puzzle?" (pdf), onde faz uma retrospectiva da discussão havida entretanto. Uma descrição deste problema pelo mesmo autor encontra-se disponível aqui (pdf).

Para além das aplicações práticas que o deslindar deste quebra-cabeças poderia proporcionar, o assunto prende-se também com a "teoria geral da decisão", colocando em causa a hipótese das escolhas racionais.

Em Abril do corrente ano o assunto foi abordado pelo Professor Robert Barro, no artigo: "Rare Events and the Equity Premium Puzzle"" (pdf; também disponível aqui em pdf e aqui em Word). Partindo de uma hipótese proposta por T. A. Dietz em 1988 - "The Equity Risk Premium: A Solution" - e recorrendo ao "modelo em árvore" de Lucas, Barro desenvolve um modelo com dados históricos, mostrando que a probabilidade da ocorrência de "eventos raros" (tais como grandes depressões, grandes guerras, guerra nuclear, etç) poderia explicar o puzzle, ao fazer aumentar o risco percepcionado pelos investidores relativamente aos títulos do Tesouro - usualmente considerados "seguros" pela teoria.

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  • Via Cyberlibris, cujo comentário vale a pena ler.
  • Comentário na Dead Parrot Society
  • Uma nota jocosa no blogue Stumbling and Mumbling adianta alguns dos tipos de explicações para o Equity Premium Puzzle: «Uns dizem que é por causa dos investidores serem irracionais ["aversão a perdas", referida aqui]. Outros dizem que os EUA simplesmente tivertam sorte (pdf), e outros ainda dizem que se deve à nossa natureza de criaturas de hábitos (pdf), e que por isso tememos pequenas quedas no nosso rendimento. Mas há agora outra teoria: as mulheres não são atraídas por homens que gostam de arriscar. Isto, só por si, deve criar um excesso no rendimentos das acções, ao fazer aumentar a penalização associada ao comportamento de risco.»
  • Um artigo científico de António Damásio e outros, "Investment Behavior and the Negative Side of Emotion" (Psychological Science de Junho de 2005), faz referência a este puzzle. Aquilo que parece ser uma versão prévia deste texto, encontra-se disponível aqui (pdf).
  • Resumo do artigo:
    "Poderão as disfunções do sistemas neurais subjcentes às emoções, sob certas circunstâncias, conduzir a decisões mais vantajosas? Para responder a esta questão, observámos como é que participantes normais, doentes com lesões focais estáveis em zonas do cérebro relacionadas com emoções (grupo alvo) e doentes com lesões focais estáveis em zonas do cérebro não relacionadas com emoções (grupo de controlo) fizeram 20 rondas de decisões de investimento. Os doentes do grupo alvo tomaram decisões mais vantajosas e ganharam mais dinheiro com os seus investimentos do que os participantes normais ou os do grupo de controlo. Quando os participantes normais e os do grupo de controlo perdiam ou ganhavam dinheiro numa das rondas, adoptavam uma estratégia conservadora e tornavam-se mais relutantes em investir na ronda subsequente; estes resultados sugerem que eles eram mais afectados que os doentes do grupo alvo pelos resultados das decisões feitas na ronda prévia."

    Acerca do "Equity Premium Puzzle":
    "Muitas pessoas manifestam níveis extremos de aversão ao risco relativamente a apostas que envolvam algum risco de perda, se as apostas foram apresentadas "ao-mesmo-tempo", uma condição conhecida como "aversão míope a perdas". Por exemplo, muitas pessoas não aceitarão voluntariamente uma aposta com iguais probabilidades de perder ou ganhar, com ganho de 200 e perda de 150, apesar do elevado valor esperado. A "aversão míope a perdas" tem sido indicada como uma explicação para o grande número de indivíduos que preferem investir em títulos do tesouro, apesar das acções em bolsa terem proporcionado historicamente uma maior taxa de rendibilidade - um padrão que os economistas designam como "equity premium puzzle".
    Num texto jornalístico, "Emotionally Impaired People May Make Better Money Decisions", certamente inspirado no artigo citado acima, refere-se; «Alguns neurocientistas acreditam que os bons investidores poderão ter capacidades especiais na supressão de reacções emocionais. "É possível que as pessoas que são investidores de alto risco ou bons investidores, tenham aquilo a que se chama psicopatia funcional" - diz Antoine Bechara, co-autor do estudo referido. "Eles não reagem emocionalmente às coisas. Os bons investidores podem aprender a controlar as suas emoções de modo a comportar-se como essas pessoas."»

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