quinta-feira, março 31, 2005

Atlântico: banhada na esquerda


Com o jornal Público é distribuído hoje o 1º número de uma nova revista: a "Atlântico", tendo Helena Matos como directora e Hugo Gonçalves como editor.

A "Atlântico" identifica-se como uma "revista de crítica e debate", e o editorial acrescenta-lhe "uma identidade forte, polémica e única". E também uma determinação: "fazer uma revista que rompa com o unanimismo reinante".

O certo é que a revista inclui artigos bem interessantes. Por exemplo, um de Vitor Bento sobre "A necessidade de consolidação orçamental" e outro de Joaquim Aguiar sobre "A sociedade e o inimigo".

Paulo Tunhas dá na cabeça dos políticos e intelectuais ocidentais que simpatizam com os terrotistas islâmicos, num libelo cujo título chega para assustar a freguesia: "Omnipotência do pensamento e narcisismo intelectual". Para explicar a coisa Tunhas recorre à hipótese freudiana da "existência, nos seres humanos, de uma necessidade prática de dominar o mundo". Ou seja: Freud contra Marx. Interessante. Fico a aguardar a réplica do "povo de esquerda" ( o desenho do punho com uma rosa, a escorrer sangue, é mesmo mauzinho...)

Uma espécie de artigo de fundo malha no nosso primeiro: "José Socrates na Ilha da Páscoa". Quem é que disse que (ainda) não é possível fazer humor com este primeiro-ministro? Calem-se as desculpas de "bloqueio humorístico" do Gato Fedorento, que este Rui Ramos tem mesmo graça.

Luciano Amaral escreve sobre o Vietname: "A guerra que a América não quiz ganhar". Hugo Gançalves escalpeliza a Oriana Fallaci, "Femme Fatale". Há ainda textos de René Char traduzidos por Manuel de Lucena, recensões de livros e discos, uma crónica humorística de Alice Mendes (que goza a valer com o José Gil) e um conto de João Tordo.

Há lá mais coisas, mas só com isto já valia que se dessem 2 euros pela revista. O facto de ser distribuída de borla com o Público é um grande achado, mas cheira-me que a graça ocorrerá só com o primeiro número - é o velho truque da fidelização.

E, de facto, agora que leio com mais atenção, a coisa confirma-se: "neste primeiro número chegaremos às suas mãos acompanhando o jornal "Público". A partir daí, na última 5ª feira de cada mês, estaremos nas bancas". Só não diz o preço. Pudores de intelectuais.

A propriedade da revista é do Forum para a Competitividade (vejam bem no que dão as ideias do Porter; razão tem o Mintzberg...)

Um suma: uma revista culta, divertida, acutilante e, ao que parece, de direita. Coitado do Sócrates. Coitado do Louçã. A mim, tudo o que me faça rir é bom para a saúde - já lá diziam os médicos. Felicidades pois para a Atlântico.

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