quinta-feira, janeiro 27, 2005
Teoria dos jogos
Os últimos indicadores que apresentam os EUA à frente da Europa em vários domínios económicos, com excepção no índice de sustentabilidade, são motivo para reflexão. Em termos anedóticos poderíamos afirmar: não faz mal, os EUA vão à nossa frente na criação de riqueza mas como a sustentabilidade está a nosso favor, eles vão desaparecer mais cedo e depois só ficamos nós.
Mas não é assim: a agressão ambiental constitui uma externalidade cujo preço é suportado por todos, ainda que só um a pratique. A verdade é que as preocupações ambientais proporcionam sustentabilidade no longo prazo mas penalizam a economia no curto e médio prazos. Os EUA têm resistido a assinar os tratados internacionais relativos à protecção do ambiente (tais como o Protocolo de Quioto) não por motivos de insensibilidade, mas apenas por motivos estratégicos.
O processo de globalização e a reorganização política mundial criou oportunidades de negócio únicas na história da humanidade. A "guerra" económica que se trava neste momento tem uma importância crucial para a hegemonia económica do futuro e os EUA não estão dispostos a ceder pontos; as preocupações ambientais do mundo estão a ser aproveitadas pelos americanos, pois as medidas de protecção ambiental traduzem-se numa redução da competitividade económica. A Europa submete-se aos tratados e critica os americanos, mas estes suportam bem os remoques e tentarão ganhar vantagens competitivas com a sua atitude.
Ao contrário da anedota inicial, o que pode acontecer é que os EUA adquiram uma tal vantagem económica que os condenados a desaparecer do mapa sejamos nós. Isto pode facilmente ser visto em termos da teoria dos jogos: ambos os contendores podem rejeitar as medidas de protecção ambiental, ou ambos as podem aceitar; esta última opção seria a melhor para a humanidade; mas cada um dos contendores tem vantagem em não se sujeitar a essas medidas, no caso do outro o fazer.
Neste caso ambos os adversários conhecem as intenções do outro e a situação mais lógica seria que, se um deles recusa as medidas penalizadoras, o outro também as recuse - mas não é o que está a acontecer. A Europa, mais romântica, crê talvez que acabará por dar o exemplo, ou que o resto do mundo alinhará pela nossa posição responsável. Mas, como é sabido, no domínio da política internacional não há amigos e sim interesses - e o interesse económico prevalecerá, pelo menos até que algo catastrófico e irreversível prove a loucura da destruição ambiental.
Sobre a posição dos EUA relativa ao Protocolo de Quioto veja-se esta notícia de Dezembro último do Portugal Diário
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