segunda-feira, janeiro 17, 2005

ISEG


No Ordem nos economistas, Luís reflecte sobre o ISEG e a respectiva inserção no mundo actual. Já antes, Nuno Palma tinha feito um exercício semelhante:
«Agrada-me no passado esta escola ter lutado pela democracia, mas pagámos por ela um preço bem caro. Não pela luta em si, pelo que veio a seguir.»
Bem, o que veio a seguir foi a ultrapassagem do ISEG por outras escolas de Economia. Não creio que o facto do ISEG não ficar em primeiro lugar nos rankings deva ser motivo de angústias: alguém tem de ficar em primeiro lugar. Por excelente que uma instituição seja, nada impede que outras a consigam ultrapassar. A questão essencial é sim a do papel da escola na vida do país.

Estou afastado do ISEG há muitos anos para poder falar sobre o caso com conhecimento de causa, mas é um assunto que me interessa. É sabido que, no passado, o ensino do ISEG teve uma forte componente keynesiana e que o desprestígio dessa corrente teórica também atingiu o Quelhas. Também é verdade que na escola os gurus do keynesianismo eram, na sua maioria, marxistas de crença; terão talvez imaginado que as técnicas de planeamento e a intervenção estatal de base keynesiana se poderia aproximar de uma teoria económica que se fundisse com a promessa marxista da sociedade sem classes. Desilude-me que a escola não consiga fazer e afirmar uma leitura positiva desse período - pelo menos, que se veja.

Outra coisa que correu mal, mas que merecia reflexão, foi a "desconstrução" da "escola quartel" feita imediatamente antes do 25 de Abril. Misturando influências marxistas (vertente maoista) e anarquistas (via Maio de 68), vários pensadores do movimento estudantil (exemplos: Ferro Rodrigues, Luís Graça) promoveram a crítica e propuseram a "destruição" duma escola (o próprio ISEG) que se acreditava servir apenas para "formar quadros para a burguesia". A palavra de ordem era então: "Abaixo a escola quartel !"

Pois bem: veio o 25 de Abril e foi isso mesmo que foi feito: a escola foi destruída e, em seu lugar, montada uma farsa em torno de "seminários"; professores competentes e que tinham forjado o ISCEF enquanto escola de referência, como António Manuel Pinto Barbosa, foram cruamente saneados e, para o corpo docente, entrou uma série de gente cinzenta (é o adjectivo mais benigno que me ocorre).

É certo que não tardou muito (2 anos ?) para que o movimento reformador refluísse: a experiência dos seminários cedo se revelou infrutífera e havia a clara consciência de que a Católica e a Nova eram ameaças de mercado importantes. No entanto, creio que nunca foi feita a devida crítica aos acontecimentos, uma crítica inteligente que permita incorporar o que de positivo teve esse espirito contestatário que, no fundo, visava apenas melhorar o mundo. Por outras palavras: não foi feito o luto que permita libertar a mente da escola para novos voos; a escola parece estar como naquele ditado: gato escaldado de água fria tem medo. Depois de ter tentado fazer uma revolução no ensino da Economia e de ter falhado, é de esperar que se temam novas aventuras e que isso seja paralizante.

Porém, 30 anos passados, talvez já seja altura de fazer um balanço sério. Eu gostaria muito de assistir, e eventualmente participar, num tal exercício.

Nota - as imagens são do Maio de 68, iconografia recorrente nos cartazes de parede que existiam na cantina da escola.

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