sexta-feira, janeiro 07, 2005

Grau zero


A reacção de Bagão Felix, após ter recebido o governador do Banco de Portugal, representa o grau zero da argumentação económica. Como já aqui foi referido, para além de um remoques infantis ("é mais fácil fazer previsões em Janeiro") não há um pingo de argumentação de natureza económica. Bagão sugere que o Banco de Portugal já se enganou noutras previsões mas não indica objectivamente se discorda ou não desta previsão ou, em caso de discordância, em que aspectos ocorre a divergência.

Diz o ministro que o próprio governo já tinha admitido rever em baixa os dados do orçamento, mas não revela as suas próprias previsões. Serão elas piores que as de Vitor Constâncio ?

O orçamento para 2005 foi portanto aprovado quando o próprio governo já sabia que os respectivos pressupostos estavam errados. E o famigerado encarte da fralda, distribuído em Dezembro, revela-se assim, pela voz do próprio governo, como uma mentira assumida, pois lá vem chapada a previsão de crescimento de 2,4 % em 2005.

3 comentários:

LA disse...

Esta situação com Vitor Constâncio serviu de apoio ao reconhecimento de que os 2,4% eram muito ambiciosos 8para não dizer outra coisa). Na altura, o valor do preço do petróleo e o nulo empenho na redução drástica das despesas do sector público sugeriam que mais cedo do que tarde, os pressupostos teriam de ser alterados.
Era de esperar: o OE foi aprovado depois da dissolução, com prevível futuro acréscimo de um OE rectificativo.

Joao Augusto Aldeia disse...

Não concordo com essa "normalidade". O que tudo isto mostra é o erro da ideia de que o país já podia desapertar o cinto; essa era a política de Santana Lopes e o orçamento reflectiu-a. E não se deve tudo apenas à evolução dos preços do petróleo: as importações aumentaram muito (para além do referido efeito inflacionista) enquanto as exportações não cresceram como previsto.

LA disse...

O problema é que o cinto só foi apertado pelos particulares. O desapertar do cinto que o OE'05 dava a entender (também através do pressuposto dos 2,4%) serviriria para evitar medidas drásticas e necessárias na dimuição do valor que o SPE retira da economia para fazer face à despesa que o "monstro" (como se diz no Jaquizinhos) tem.
Vitor C. deu oportunidade a que Bagão Félix reconhecesse que o crescimento económico não seria suficiente para financiar o desapertar do cinto.
Mesmo que não houvesse dissolução da Assembleia, um orçamento retificativo seria de esperar. Mas durante algum tempo, Santana Lopes esperava manter a ilusão que o seu whishful thinking traria tais crescimentos.
Um pouco como agora se propõe Sócrates, que acha que o crescimento se pode decretar.
Por isso deu jeito que fosse um antigo SG do PS, com aura de imparcialidade, a servir de veículo a este reconhecimento de ecesso de expectativas, calmo e sem grandes alaridos, por parte do governo.