segunda-feira, novembro 15, 2004

Guerra às pausas


O jornal Público revela que Norbert Walter, "importante economista do Deutsche Bank", lançou a ideia de que as pausas para fumar no local de trabalho não devem ser remuneradas - isto numa entrevista ao "Bild am Sonntag". Ao princípio ainda pensei que se tratasse de uma proposta coasiana no sentido de equilibrar o mercado da poluição, sendo os montantes não pagos aos fumadores canalizados para os fumadores passivos, por exemplo - e imaginei logo o meu rendimento a crescer. Mas a notícia não permite tais devaneios: o que Norbert Walter defende é que apenas o tempo de trabalho efectivo seja pago, circunstância que, segundo ele, permitiria às empresas baixar "bastante" as despesas com salários. A medida estender-se-ia também a outros vícios, tais como o do café.

Pode-se controlar o trabalho efectivo de duas maneiras - medindo o output real ou medindo o tempo de presença no posto de trabalho - e eu supunha que esta última seria a menos eficiente, já que se pode estar lá sem produzir grande coisa. Calculo também que estas pausas - ainda que eu não seja dependente de nenhuma delas - tenham um papel importante no equilíbrio psicológico do trabalhador e, logo, também na produtividade.

Creio que todos temos consciência de que o Estado Providência não tem condições para sustentar muitas das suas regalias, incluindo a duração reduzida da jornada de trabalho, mas retirar as pausas parece-me ser "pior a emenda do que o soneto". As pessoas não são autómatos.

1 comentário:

Luis Gaspar disse...

Ainda bem que colocou importante economista do Deutsche Bank entre aspas, porque são paradoxos dois a dois - os economistas, quando o são - economistas, não são importantes; as pessoas importantes não são economistas; o DB não tem economistas; os economistas não escolhem trabalhar no DB. Etc...

Claro que só um não economista podia sugerir tamanha barbaridade. Vamos fazer contas. Como é que se podia medir se o trabalhador está ou não no local de trabalho? Não há máquinas para o fazer, ainda, pelo que teriam de contratar um capataz (e sim, quem controla o capataz?). Vamos imaginar que este recebe 200 contos por mês. Isso dá 20 contos por trablhador. Vamos imaginar agora que os 10 trabalhadores são sempre eficientes, isto é, trabalham sempre o mesmo todas as horas que lá tiverem (não existem rendimentos marginais decrescentes, mete-se fita cola nos olhos e espetam-se pregos nos dedos). Se cada um receber o que produz, e se cada um receber 200 contos, e se cada um deixar de tirar meia hora ao todo por dia de trabalho para tomar um café e fumar um cigarro, isto tira à empresa (oito horas de trabalho, cinco dias por semana) 625 escudos por trabalhador, ou seja, 125 contos por mês de perdas. Mesmo com hipóteses heróicas (é claro que a produtividade de ir tomar um café e fumar um cigarro dispara e mais que compensa o tempo perdido; é claro que um capataz ia fumar um cigarro com eles, ou sem eles; etc..) e totalmente hilariantes, a empresa teria um prejuízo de 35% do montante investido. Important economist my ***!