O jornal Público de hoje divulga resultados de investigações sobre migrações do virus HIV, que apontam Portugal como "país exportador" de sida. A cartografia das contaminações desta doença, através do mapeamento genético das diversas variantes, permitiu aos investigadores chegar a diversas conclusões:
— "Grécia, Portugal, Sérvia e Espanha são fontes disseminadoras do HIV-1"
— "Áustria, Bélgica, Dinamarca, Alemanha e Luxemburgo, pelo contrário, constituem alvos migratórios"
— "Itália, Israel, Noruega, Holanda, Suécia, Suíça e Reino Unido apresentam migrações bidireccionais."
— "A maior parte dos vírus 'exportados' por Portugal foram-no para o Luxemburgo"
O virologista e co-autor do estudo, Ricardo Camacho, comentando estes resultados para o mesmo jornal, afirma não estar surpreendido: "Houve um ano desta década em que 86 por cento das pessoas diagnosticadas como seropositivas no Luxemburgo eram portugueses."
E sobre a "rota turística" do HIV: "Portugal exporta HIV para outros países; nós encontrámos esta realidade e a explicação que nos ocorre é que ou foram pessoas já infectadas que emigraram para outros países, ou foram turistas que vieram de férias e foram infectadas em Portugal."
É sabido que o comportamento sexual aparente das comunidades humanas pode diferir muito da realidade. Nos anos 60 era visível que havia em Portugal um "turismo sexual" integrado no paradigma do "amor livre" daquela década — mulheres nórdicas procurando relações temporárias com os bronzeados jovens portugueses; estes relacionamentos chegavam mesmo a ser ostentados com orgulho pelos nossos compatriotas, fenómeno exibicionista de que sobreviveu o fóssil algarvio Zezé Camarinha. Mas hoje, aparentemente, o turismo seria mais casto, acossado, precisamente, pela ameaça do HIV. O que a referida investigação nos vem revelar, se a hipótese e os resultados da investigação estiverem certos, é que há mais "anos 60" e mais "amor livre" no turismo actual do que se suspeita, eventualmente com maior recato.
Quem sabe: talvez o Zezé Camarinha não seja assim tão anacrónico, e talvez ele próprio esteja enganado quando se apresenta como "O últmo macho man português".
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