terça-feira, outubro 10, 2006

Matemática


"O Desastre no Ensino da Matemática - Recuperar o Tempo Perdido"
Nuno Crato e outros
Editora Gradiva

«Ano após ano a situação tem-se agravado, com o beneplácito de muitos responsáveis políticos e a cegueira ideológica de muitos teóricos da educação. Tal como uma bomba, a irresponsabilidade estoura sobre os nossos jovens e o nosso futuro. Neste livro, especialistas de formações diversas analisam a situação e apontam soluções»

Entrevista de Nuno Crato ao Diário de Notícias:


   Nuno Crato

P - O novo livro é mais polémico [do que o anterior, "Eduquês"]?
R - É menos polémico e mais variado do que o "Eduquês".
P - Este teve o impacte desejado?
R - Fiquei muito surpreendido. Vendeu muitos milhares. Há muita gente interessada em saber o que se passa. Recebi centenas de cartas, mails e telefonemas de pais e professores.
P - E reacções dos criticados?
R - Houve só duas ou três críticas, mas moderadas. Há a ideia generalizada de que se foi longe de mais nos disparates da educação.
P - O "Eduquês" não aponta caminhos mas dá ideias, algumas de "velhos" métodos, como a memorização.
R - A pedagogia tradicional tem coisas erradas, e a crítica foi muito longe no sentido oposto. Deitou-se fora o bebé com a água do banho.
P - Os docentes desvalorizam a memorização?
R - Não se pôs em prática todas as ideias do romantismo/construtivismo, só o que era possível. Num dos livros de formação de professores mais vendidos diz-se que não se deve ensinar matemática às crianças porque elas descobrem-na por si. Eles não deixam de ensinar, mas desorganiza a cabeça dos professores.
P - Critica o pouco treino na abstracção.
R - A teoria do situated learning diz que não devo ensinar que dois mais dois são quatro, mas apenas que duas laranjas mais duas são quatro laranjas. A ideia é que se as coisas não forem dadas em contexto tornam-se abstractas e as crianças não as percebem. Isso é limitador. No Português salta-se da descodificação do texto para a compreensão aplicada, descurando a fase intermédia da compreensão literal do texto.
P - O ensino está pouco exigente?
R - A pouca exigência é o corolário deste romantismo.
P - Defende mais exames...
R - É decisivo pelo menos mais um, a meio da escolaridade obrigatória.
P - Pela responsabilização?
R - De alunos e professores. Os professores devem ser avaliados em função dos resultados com os alunos.
P - Há escolas e escolas...
R - Que valor acrescentado deu o professor? Pegou numa turma com 50% de positivas e passou a ter 60% ? É muito bom. Melhor do que pegar numa turma com 90% de positivas e passar a ter 91% .
P - Que reacção lhe suscitaram os resultados dos exames?
R - Grave. A culpa não é dos alunos.
P - Sobre formação dos professores, o que traz o novo livro?
R - É a questão central. O novo livro explica a nossa proposta, em parte já aplicada pela actual ministra, que é a de os professores fazerem um exame à entrada da profissão. Mas esse exame tem de ser substantivo, sobre as matérias que vão ensinar.

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