quinta-feira, novembro 10, 2005

Mundo cruel


Lord Keynes: morto, beatificado e invocado em vão.

Lá para as bandas do Bicho Carpinteiro resolveram exibir subtileza com citações de Keynes. Devem talvez desconhecer aquela em que o Lord insinua que os políticos, que se julgam originais, andam sempre a papaguear as teorias de um qualquer economista defunto.

O Keynes agrada à esquerda. No ISEG marxista era idolatrado. Francisco Pereira de Moura escreveu belos manuais keynesianos, por onde aprendeu a maioria dos economistas ainda no poder (esse osso que nunca mais largam para os novos Frasquilhos, que chatice!)

Dada a penúria actual de ideólogos, e como o antigo governador do Banco Central de Cuba (Guevara) não deixou obra económica, agarram-se a qualquer tábua de salvação no encarpelado oceano do mainstream neo-liberal. Por exemplo: Keynes. Keynes, com a sua porta aberta aos défices orçamentais, permite continuar a sonhar com novos amanhãs em que a reforma por inteiro continue assegurada até x anos depois de morto.

Mas o Bicho Carpinteiro anda a pisar terreno minado. O mais legítimo representante luso-vivo do keynesianismo é Aníbal Cavaco Silva, através do seu único livro de jeito, "Política Orçamental e Estabilização Económica", mais tarde rebaptizado "Finanças Públicas e Política Macroeconómica" (já contei esta 'estória' aqui). Se promovem o Keynes - com foto da Time e tudo - arriscam-se a dar ainda mais votos ao Professor Tabu.

O professor Medeiros Ferreira, que já escreveu livros sobre macroeconomia, devia fazer um intervalo na cansativa tarefa de insuflar as bochechas da múmia e dar uma formação rápida àquela tropa, antes que metam ainda mais a pata na poça.

Quanto a Keynes: ele certamente não ignoraria que lhe calharia a vez de ser invocado em vão. Mas desta maneira? Ó mundo cruel!...


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