segunda-feira, outubro 03, 2005

Neurobiologia do sarcasmo

A neurobiologia do sarcasmo e a sua relação com processos cognitivos foi estudada por uma equipa de investigadores israelitas, que publicaram os resultados no artigo "The Neuroanatomical Basis of Understanding Sarcasm and Its Relationship to Social Cognition".

O interesse do estudo, que recorre à imageologia cerebral para apurar quais as funções envolvidas na detecção do sarcasmo, está em que, para o conhecimento social, é necessário inferir o estado mental dos outros, os seus pensamentos e sentimentos. E para entender a ironia é necessário compreender as ligações sociais. Assim, a ironia e o sarcasmo exigem o domínio de funções mentais de elevado nível, razão pela qual só são apreendidos gradualmente pelas crianças.

A detecção da ironia e do sarcasmo envolve o hemisfério direito, mas existem indicações de que os lobos frontais também participam na interpretação das expressões sarcásticas. A relação dos lobos frontais com o conhecimento social encontra-se igualmente estabelecida, sabendo-se que os danos nesta região afectam as funções cognitivas de alto nível, bem como o comportamento social e a personalidade. Crê-se que também limitem as funções de análise, planeamento e monitorização da linguagem.
«A ironia é uma forma indirecta de discurso utilizada para transmitir sentimentos de um modo indirecto. As expressões irónicas são caracterizadas pela oposição entre o sentido literal da frase e a intenção do emissor. Uma das formas de ironia é o sarcasmo. O sarcasmo é usualmente utilizado para comunicar uma crítica implícita acerca do ouvinte ou da situação. É utilizado em situações que provocam um efeito negativo e é acompanhado por desaprovação, desprezo e gozo. Por exemplo, um patrão que apanha um empregado a dormitar poderá dizer-lhe: "Joe, vê lá não te mates a trabalhar!", para exprimir o seu desagrado. O destinatário pode identificar a oposição entre o sentido literal da frase (Joe está a trabalhar demais) e a intenção de crítica do patrão (Joe é preguiçoso). O emissor da ironia pretende que o receptor detecte a falsidade deliberada; ele faz uma afirmação que viola o contexto e pretende que o ouvinte reconheça a afirmação. Portanto, a interpretação do sarcasmo envolve a compreensão das intenções expressas na situação e pode incluir processos de reconhecimento social e da teoria da mente.

«Parece que dificuldades na compreensão de expressões sarcásticas podem reflectir uma capacidade limitada para compreender indicações de natureza social tais como intenções, crenças e emoções.»

Via Decision Science News

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