terça-feira, outubro 18, 2005

Flagrantes da vida real

Creio que foi na sequência da revolução liberal que surgiu em Portugal o aforismo (ou provérbio ou lá o que quizerem):

«Foge, cão, que te fazem barão!
Mas para onde, se me fazem visconde?
»

Isto para retratar a prodigalidade com que então se atribuíam os novos títulos: o "job for the boys" da época. Já no século XX o Alexandre O'Neill criou um outro:

«Tome cuidado, senão
 fazem-no Dr. do pé p'rá mão
 Mas se Dr. não diz que é
 fazem-no cão da mão p'ró pé.
»

O contexto de O'Neill seria diferente do actual, mas o aforismo mantém actualidade dada a ambivalência com que encaramos os actuais diplomas de cursos superiores: quem os não tem é porque "está fora da sociedade do conhecimento", etç. Quem os exibe é porque "agora já não se aprende nada na Universidade", etç.



Adenda - nem de proposito: o blogue Da Literatura escreveu: «Um conceituado especialista em recursos humanos, Ph.D. por uma das universidades da Ivy League, com larga experiência internacional, num jantar de amigos, ali para os lados de São João da Ribeira, deixa cair: "Três quintos dos licenciados portugueses dos últimos 30 anos não tem competência própria. Metade deles nem para arrumadores." Algum desconforto na mesa, onde estão dois professores associados e uma catedrática. O atrito dilui com exemplos lá de fora. A realidade inglesa e americana (por esta ordem) não é diferente. A nossa vantagem é que os analfabetos portugueses são todos drs.»

url: http://puraeconomia.blogspot.com/2005/10/flagrantes-da-vida-real.html

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