sexta-feira, outubro 14, 2005

Contar histórias

Michael Mandel - um jornalista com um doutoramento em Economia - levanta, na Business Week, dúvidas quanto à cientificidade da Teoria dos Jogos:

«(...) Concordo que Robert Aumann e Thomas Schelling merecem o prémio Nobel. Schelling, em particular, escreveu dois dos melhores livros de Economia de sempre: The Strategy of Conflict e Micromotives and Macrobehavior. Contudo, na minha opinião, a Teoria dos Jogos representa um beco-sem-saída evolucionista da Economia. A Teoria dos Jogos recorre ao princípio da racionalidade para explicar o conflito e a cooperação numa ampla gama de situações económicas e sociais. Por exemplo, tem sido utilizada para analisar porque é que a aparentemente insane corrida ao armamento nuclear no período do pós-guerra foi, na realidade, um método racional de impedir a guerra, e porque é que os agressivos cortes de preços das companhias aéreas acabou por constituir um meio eficaz para eliminar a concorrência.

«A Teoria dos Jogos é certamente maravilhosa para contar histórias. Contudo, falha no principal teste de qualquer teoria científica: a capacidade para fazer previsões empíricas verificáveis. Em muitas situações da vida real, muitos possíveis resultados - desde a cooperação completa até ao conflito quase desastroso - são consistentes com a versão da racionalidade na Teoria dos Jogos.

«Dito de outra forma: se o mundo tivesse explodido durante a crise dos Mísseis de Cuba de 1962, a Teoria dos jogos poderia [também] tê-la explicado como um infeliz resultado - mas que seria tão racional como aquele que efectivamente ocorreu. Do mesmo modo, um sector que entra em colapso devido a uma concorrência maluca, como a das companhias aéreas, pode ser tão facilmente explicado pela Teoria dos Jogos como outro onde a cooperação seja a norma.»

Tyler Cowen , no Marginal Revolution - onde encontrei esta referência - irritou-se com o artigo e fez esta profissão de fé na Teoria, sob a forma de "possíveis respostas" às dúvidas de Michael Mandel:
«1. As abordagens comportamentais desenvolverão o conhecimento sobre como os humanos realmente se comportam, e a Teoria dos Jogos acabará por fornecer previsões claras, basta dar-lhe tempo.

2. As abordagens computacionais desenvolverão o conhecimento sobre como os humanos realmente se comportam e a Teoria dos Jogos acabará por fornecer previsões claras, basta dar-lhe tempo.

3. As abordagens evolucionistas desenvolverão o conhecimento sobre como os humanos realmente se comportam e a Teoria dos Jogos acabará por fornecer previsões claras, basta dar-lhe tempo.

4. As abordagens experimentais desenvolverão o conhecimento sobre como os humanos realmente se comportam e a Teoria dos Jogos acabará por fornecer previsões claras, basta .

5. O mundo real é,de facto, indeterminado ou quase indeterminado. A indeterminação e os múltiplos equilíbrios da Teoria dos Jogos não constituem um problema, mas antes reflectem quão efectivamente a teoria espelha a realidade. Vocês talvez prefiram previsões claras e precisas, mas não vão tê-las. A fidelidade à realidade é mais importante do que a satisfação de exigências metodológicas abstractas.»

in Marginal Revolution

Não sei. As "exigências metodológicas abstractas" - ou seja, a "capacidade para fazer previsões empíricas verificáveis" - constituem uma trave mestra do método científico. Tirando isso, não sei o que fica.

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