«A grande inflação dos anos 1970 e as suas sequelas constituem um dos maiores eventos da história monetária. De facto, a incapacidade das autoridades monetárias, nas maiores economias industriais, para manter uma âncora nominal estável durante aquela década, motivou os subsequentes desenvolvimentos nas políticas e instituições monetárias (*). Estas incluiram a análise das regras monetárias, a mais famosa das quais foi sugerida por John Taylor, e a adopção generalizada de bancos centrais independentes. Houve também uma focagem na explicação dos mecanismos pelos quais a subsequente política monetária domou a inflação com o uso simultâneo de abordagens descritivas e análise quantitativa. Esta discussão alargou recentemente o papel da política monetária na redução das oscilações do produto, particularmente nos EUA. «Este paper reexamina as consequências da perda de credibilidade monetária nos anos 70 e o subsequente ganho de estabilidade. A ênfase é colocada na interacção entre mudanças no comportamentos dos políticos e do sector privado. Usando os recentes desenvolvimentos teóricos como guia, argumentamos que a estabilidade monetária permite que as decisões de formação de preços pelo sector privado sejam mais focadas nas expectativas da inflação futura. Esta redução da inércia inflacionária melhora as respostas da oferta, tornando mais fácil para as autoridades estabilizar a volatilidade do produto, mantendo simultaneamente as forças inflacionárias sob controlo. Na realidade, e em contraste com a literatura dominante, argumentamos que os benefícios decorrentes destas alterações na curva de Phillips se sobrepõem aos que resultam das mudanças das regras de política monetária. «Este paper pode ser visto como explorando a ligação entre a ciência e a arte da política monetária. Trabalhos académicos recentes sobre política monetária focaram-se na descrição de condutas, em termos de regras e consequências, em modelos construídos com estas regras. Os praticantes, por outro lado, insistem em que existe um elemento artístico neste processo, usando palavras como "credibilidade", que parecem mais apropriadas para textos de psicologia do que para a abordagem científica da política monetária típica dos trabalhos académicos. Defendemos que esta qualidade "artística" pode ser apreendida pelo impacto da política monetária nas percepções e comportamento do sector privado. Convencer o público de que está em boas mãos torna muito mais fácil aos responsáveis políticos conseguir simultaneamente estabilização da inflação e do produto. Este paper recorre a métodos analíticos da abordagem científica para explorar esse elemento artístico.» "Deconstructing the Art of Central Banking" Textos relacionados: (*)- estiveram igualmente na base na mudança de políticas keynesianas (correcção dos ciclos com recurso a despesa pública, sintonia fina, etç) para políticas não-intervencionistas [nota do 'pura economia'] |
sexta-feira, agosto 05, 2005
A Arte dos Bancos Centrais
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4 comentários:
Sabe uma das coisas que me preocupa seriamente? O retorno ao velho sistema onde o poder político manipulava o banco central em benefício dos interesses políticos e eleitorais. E basta ver a cada vez maior discussão pública (já não é só entre os estofos dos salões) sobre a "excessiva" independência dos bancos centrais, especialmente do BCE.
E, na minha modesta opinião, como o fantasma foi quase domado a nivel global, agora já há quem admita que é necessário haver uma inflação maior, para estimular a actividade económica. Em Portugal o pontapé de partida foi o Miguel Cadilhe.
Seria interessante, hoje cada vez mais que nunca, explicitar e fazer compreender à opinião pública e aos politicos, as grandes vantagens da estabilidade de preços e até da redução na pobreza permitida por baixas taxas de inflação. Sob pena de virmo-nos na contigência de voltarmos a ter políticos ao comando da politica monetária, pois já não lhes basta o dinheiro estatal.
E para caso infeliz como emblemático, ver o que sucedeu com o governo de Lula e sua "apropriação" do Banco Central do Brasil como uma mera repartição politico-governamental do Partido dos Trabalhadores.
O BCB perdeu credibilidade, o investimento externo assustou-se, a moeda tremeu e a actividade económica sofre mais um abalo. Claro, claro,que há muitos que julgam que a recente crise tem origem apenas na crise de confiança no governo do Lula, devido à corrupção generalizada, mas parece-me que a perca da independência do BCB foi quem despoletou a crise económica.
Seria pedagógico, talvez, cada vez mais elogiar a importância de baixas taxas de inflação e suas vantagens para quase todos os agentes económicos.
Concordo, não tanto por argumentos "económicos", mas mais de natureza política; parece evidente que a existência de poderes e contra-poderes, mesmo ao nível dos grandes órgãos institucionais (e o banco central pode ser considerado como um deles) contribui para melhorar as decisões de regulação da economia - e outras.
A concentração num só órgão pode contribuir para a consistência e rapidez de intervenção, mas abre o flanco a derivas eleitoralistas ou, o que é pior, ao sucesso de alguns grupos de pressão no condicionamento das políticas públicas, em favor dos seus estritos interesses.
Dito de outro modo: não me parece evidente que um banco central seja melhor regulador económico que o governo central, ou que políticas monetaristas cegas sejam melhores que o intervencionismo esclarecido.
Mas, no contexto actual, e precisamente porque os bancos centrais parecem estar (ainda) imunes aos jobs for the boys, oferecem garantia de alguma isenção na aplicação das regras económicas mais avisadas.
Foi por isso que me impressionou tanto a hipótese (noticiada pelos jornais) das mudanças na CGD poderem significar um "amolecimento" das regras de análise dos investimentos a financiar. No caso português, o Banco de Portugal parece ser das poucas coisas que os governos não usam para nomeações ao sabor do ciclo eleitoral.
O caso que aponta da Caixa é paradigmático. Quando os politicos desejam estimular o crescimento económico pela via mais fácil, mas não a de melhor retorno, quer em termos financeiros, quer em termos sociais.
A actual administração do Banco de Portugal já levou um profundo rombo na sua credibilidade, quando se "põe a jeito" do poder politico. E entende-se o porquê. Os apetites vorazes de Vitor Constâncio de ter uma palavra a dizer sobre a condução da politica económica e orçamental. O que é um profundo erro também.
Nem o governo deve tentar condicionar o Banco Central, nem este se deve pretender a"governar" Portugal sem a legitimidade democrática e do voto do poder politico.
Pode o poder politico estar nas mãos de interesses corporativos e lobbyes pouco claros. Mas a descredibilização do poder politico não pode dar ao Governador a ideia que pode condicionar o poder politico, pois é independente, mas não deve ter qualquer pretensão a substituir-se ao governo eleito democraticamente.
O Alan Greenspan nesse aspecto é um grande exemplo. Por isso, tanto é atacado por "ceder" aos interesses politicos, como não ligar patavina aos ciclos eleitorais. Mas o que é certo, conquistou para a Reserva Federal um prestígio de tal ordem grande que nunca precisou de se tentar substituir ao poder politico para ser ouvido. E respeitado. Felizmente os americanos tiveram sorte na escolha, quer de Volker, quer de Greenspan.
Na europa ainda não nos habituamos a saber distinguir ambas as posições fulcrais. O poder politico e a independência dos bancos centrais. Infelizmente...
"uma das coisas que me preocupa seriamente (é o) retorno ao velho sistema onde o poder político manipulava o banco central"
Sem dúvida! A experiência dos finais dos anos 60 e dos anos 70 é disso evidência. A Reserva Federal de McChesney Martin (com o Presidente Johnson) e de Arthur Burns (com Richard Nixon) foram o instrumento. A Guerra do Vietname (inviabilizada financeiramente pelo Senado) foi financiada pela emissão monetária com as consequência conhecidas.
Mas a grande questão que hoje se deveria pôr é outra. Até que ponto é que uma grande emissão de dívida (em vez de moeda) pode ou não ter consequências semelhantes? Ou seja: até que ponto é que o actual financiamento da Guerra do Iraque, que não tem sido feito através de emissão monetária, pode acabar por ter efeito idêntico?
"me impressionou tanto a hipótese (...) das danças na CGD poderem significar um 'amolecimento' das regras de análise dos investimentos a financiar"
Num primeiro instante também me impressionei. Depois, já menos. É a grande virtude do pessoal director da Caixa. Vistos em geral no sector como menores. Mas com provas dadas de grandes senhores da banca. É que quando não gostam do que vêm, deixam a procissão passar. Deixam de receber os "clientes" que os administradores indicam ... porque a agenda lhes não permite. Esquecem-se das propostas de crédito na gaveta ... e o Conselho de Crédito acaba por nem as ver.
E por isso, nós enquanto pagadores de impostos lhes devemos tanto. Porque não é por causa da Caixa que pagaremos mais impostos. É que se os Directores da Caixa acham que têm bons administradores, seguem-nos. E a CGD progride. Se acham que eles são maus, ficam desde logo à espera dos próximos. E a CGD não empobrece.
É a arte de ser Director da CGD ...
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