domingo, maio 01, 2005
Muniz Sodré
Entrevista com o sociólogo brasileiro Muniz Sodré - co-autor dos livros "O Império do Grotesco" e "Cidade dos Artistas" - na revista do Público de hoje. Fazendo uma previsão pessimista acerca do efeito que o excesso de informação disponível na actualidade tem sobre os seres humanos, afirma:
«Quando você está vivendo em tempo real - como na Internet - no qual você não tem teoricamente um intervalo entre um acontecimento e a reprodução dele, há uma abolição do espaço e do tempo. Ficamos com o tempo virtual, onde tudo é passível de acontecer de forma instantânea, global e simultânea. Ora, esse é o tempo zero do prazo, mas também o tempo zero da identidade. Eu não preciso de nada que me demore. É o tempo zero da paciência, da dificuldade e, eu arriscaria também, da Literatura.»
(...)
«O acesso à letra, à leitura demorada, fica mais restrito quando todas essas facilitações [internet, computador] dão uma ilusão demagógica de que você está lendo. (...) Você passa a ter a ilusão de que é culto. Como os resumos do Reader's Digest.»
Sodré fala igualmente sobre o modo como os órgãos de comunicação exploram a nossa necessidade de afecto, de integração, apanhando-nos numa armadilha que nos rebaixa enquanto seres humanos. E não só órgãos de comunicação: também alguma da literatura mais lida, como a de Paulo Coelho.
O texto do Público não se encontra de acesso livre on-line, mas algumas das ideias de Muniz Sodré podem ser encontradas nesta outra entrevista do Diário de Notícias. Pode também ouvir uma entrevista de Muniz Sodré à rádio da Universidade Estácio de Sá, em Outubro de 2003, aqui (ficheiro m3u).
Referência à entrevista do Público também por Nuno Miguel Santos no Bom senso.
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