domingo, maio 01, 2005

Matemática


O Blogo existo, que achou absurda a frase do sociólogo Rui Pena Pires segundo a qual «As 'raças' são classificações relacionais, não são atributos essenciais e naturais dos seres humanos» [e é de facto assim] tinha, ele próprio, acabado de cair na absurda falácia do "obreirismo" da aprendizagem; no caso, acerca da matemática. Escreveu ele:
«Só há duas razões para se estudar qualquer coisa: ou porque se gosta, ou porque é preciso. Os meus amigos economistas nunca mais precisaram de saber o que é um diferencial desde que acabaram o curso. Com os engenheiros é um bocadinho diferente, mas não muito (...) Que interesse tem então a matemática neste contexto? Nenhum, ou quase, não fossem as malditas comparações internacionais com que persistem em atazar-nos os miolos.»
Ora, ocorre que a aprendizagem da matemática tem efeitos profundos e duradouros na capacidade para o raciocínio complexo: mesmo se aplicado a problemas familiares, ou do futebol, ou do que for; mesmo quando, posteriormente, nunca mais se aplicam as fórmulas a problemas específicos.

Um estudo feito em França (cito de memória, já não consigo dar a referência) concluiu que a "simplificação" da matemática no ensino secundário francês tinha tido como consequência que, ao chegar à universidade, os meninos tinham diminuída a capacidade para a equação de problemas complexos (matemáticos ou outros). Depois admirem-se que as criancinhas, feitas adultas, analisem a realidade com a simplicidade da "lógica da batata"...

Provavelmente passa-se o mesmo em Portugal. Tanto quanto sei já não é necessário demonstrar teoremas: uma das coisas "mais inúteis" que se aprendia no final do secundário. Também nós, estudantes martirizados, nos perguntávamos: para quê aprender a demonstração daquelas regras, não bastava decorá-las e pronto?

Pensemos na analogia com o tecido muscular: se não for usado não se desenvolve, e se já foi desenvolvido, atrofia. Isto acontece assim porque o organismo actua inteligentemente na poupança de energia: para quê gastar recursos num órgão que não tem uso? O mesmo acontece com o cérebro, que é de resto o nosso órgão mais dispendioso em termos energéticos.

Portanto, há mais uma razão (pelos menos) para se estudar: porque é útil.

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