terça-feira, março 08, 2005

Joan Robinson (1903-1983)


Joan Violet Robinson formou-se em Economia na Universidade de Cambridge, em 1925; depois do casamento e de uma estadia de dois anos na Índia, ingressou na carreira académica nesta mesma universidade, participando activamente na "revolução keynesiana". Paralelamente com o percurso académico desempenhou diversos cargos executivos e consultivos em missões de estudo. A sua progressão na carreira académica acabou por ser prejudicada pelo facto do marido, Edward Robinson, ser docente na mesma universidade: os preconceitos impediam que a mulher pudesse "passar à frente" do homem, apesar das suas superiores capacidades e contribuições originais; só depois da aposentação do marido é que foi aceite como full professor.

A primeira obra marcante de Robinson foi “A Economia da Concorrência Imperfeita”, de 1933. Pertenceu à famosa tertúlia dos keynesianos, o Circus de Cambridge. A denominada “revolução keynesiana” pode também ser considerada como obra sua, não só pela sua participação nas discussões prévias à publicação do “Tratado da Moeda” de Keynes, mas igualmente pelos seus livros "Ensaios Sobre a Teoria do Emprego" e "Introdução à Teoria do Emprego" (ambos de 1937).

As investigações posteriores, continuando na corrente Keynesiana, integraram componentes de inspiração marxista, mas com notável originalidade relativamente a qualquer destas ortodoxias – pelo que foi bastante criticada pelos marxistas ortodoxos; aliás, Robinson “conseguiu ter contra ela todas as ortodoxias”(1). Robinson teve também um papel crucial na conhecida “constrovérsia de Cambridge”, focalizada nas duas Universidades "de Cambridge" (uma na Inglaterra, outra nos EUA: o MIT); de facto foi ela quem deu, em 1953, o tiro de partida ao criticar a corrente neo-clássica por agregar no conceito de “capital agregado” coisas muito heterogéneas, para daí calcular a “produtividade marginal do capital” (ler artigo).

Um outro campo teórico desenvolvido por Robinson foi o do crescimento económico, tendo publicado duas obras de fôlego sobre este tema: "Ensaios sobre a Teoria do Crescimento Económico" e "A Acumulação de Capital", constituindo esta última um desenvolvimento do trabalho de Kalecki, com quem colaborou ao longo dos anos que este economista esteve em Cambridge.

Na página do Prof2000 Albertino F. Pinto afirma que “Joan Robinson foi uma mulher de grande talento num mundo dominado essencialmente por homens. Pagou um preço por isso. (…) Sendo um economista de referência, nunca foi laureada com o Prémio Nobel, no que foi considerado como uma das mais tristes e injusta acção de discriminação deliberada de que há memória.” E de facto, segundo uma enciclopédia, muitos economistas admitiram que ela ganhasse o Nobel em 1975: a revista Business Week estava tão segura disso que lhe dedicou um longo artigo antes do anúncio e muitos economistas acreditam que a Real Academia Sueca não lhe outorgou o prémio apenas devido a preconceito masculino. Na blogosfera, até mesmo o Cafe Hayek admitiu que a economista teria merecido o prémio - post a que cheguei via Intermitente.

Dos textos disponíveis online em português cabe referir este ensaio de 2001 de Abraão Luís Silva, da Faculdade de Economia do Porto: Chamberlin on Product Differentiation, Market Structure and Competition; como próprio autor refere, tanto Robinson como Chamberlin desenvolveram este assunto simultânea e independentemente, tendo ambos produzido obras fundamentais; o certo é que Chamberlin costuma ter a primazia académica. Machismo? Bem, Abraão Silva não deixa de salientar, ao longo do seu trabalho, as contribuições de Robinson, pelo que vale a pena a leitura.

Desta economista a Assírio e Alvim publicou em 1977 “Heresias Económicas – Algumas Questões Esquecidas na Teoria Económica”; a editora brasileira Zahar publicou em 1977 “Filosofia Económica” (leia uma recensão). Biografia e bibliografia (em português) na página de Claudia Heller e (em inglês) na página da CEPA.
(1) - "O Pensamento Económico, de Keynes aos Nossos Dias", Beaud & Dostaler, Ed. Afrontamento, páginas 421-424.

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