domingo, janeiro 16, 2005

Portugal e Irlanda


O artigo de opinião de Vasco Pulido Valente no jornal Público de hoje coloca uma questão a ponderar: hoje são frequentes as comparações que fazemos entre nós e a Irlanda, para chegar à conclusão de que aquele país aplicou uma melhor estratégia de desenvolvimento. A comparação é convincente porque os dois países parecem semelhantes em tudo: quase o mesmo ponto de partida, a mesma dimensão (e, na minha escola primária, ensinavam que havia outra semelhança: ambos os povos faziam da batata a sua base alimentar...)

No entanto esquecemo-nos das ligações privilegiadas entre a Irlanda e os EUA e a Inglaterra: a cultura e a localização geográfica, que favorecem o investimento daqueles países (e principalmente dos EUA) na Irlanda.

E eu acrescento: assim fosse o Brasil uma das mais avançadas economias do mundo. Mas, se o não é, Portugal também não se pode queixar, já que para isso também contribuíu (por exemplo, com leis que proibiam a manufacura naquela colónia).

2 comentários:

João Pinto e Castro disse...

Note que a Inglaterra também colocou toda a espécie de entraves ao desenvolvimento das suas colónias na América do Norte. Foi por isso, aliás, que elas decidiram a dada altura tornar-se independentes. Nós fizemos tanto pelo Brasil que, a dada altura, até mudámos a capital para o Rio de Janeiro e, se isso dependesse só da vontade de D. João VI, lá teria ficado para sempre. De modo que, embora entenda o seu raciocínio, creio que não é aí que deveremos buscar as causas da disparidade de desenvolvimento entre os EUA e o Brasil.

Já agora, em relação à Irlanda, está muito longe de ser verdade que a base de partida dos dois países fosse semelhante. Para já, a Irlanda vive em democracia há quase cem anos, e nós apenas há trinta. Depois, os nossos níveis de escolaridade sempre foram (e, claro, continuam a ser) muito inferiores aos da Irlanda. Já se sabe que, quando pensamos nos factores estruturais determinantes do crescimento, essas coisas fazem toda a diferença.

O artigo do VPV é, como usualmente nos seus artigos, em parte verdade, em parte ignorante. A parte verdadeira é que nós, como povo, passamos o tempo a correr atrás da ilusão da moda, que hoje se chama imitar a Irlanda. A parte ignorante consiste em estabelecer um paralelo entre o Portugal do século XIX (assunto de que ele de facto entende) e o Portugal actual (que ele sistemática e erradamente continua a taxar de «miserável»), que, de facto, se encontra no mais elevado patamar de desenvolvimento relativo de toda a sua história, coisa que VPV evidentemente desconhece.

Se não estou em erro, numa perspectiva longa - digamos, nos cinquenta últimos anos - Portugal cresceu realmente mais depressa do que a Irlanda.

Por último, a questão da dimensão. A Irlanda, com os seus cerca de 3 milhões de habitantes, não tem a dimensão de Portugal, mas a da Região de Lisboa e Vale do Tejo. Note-se de passagem que, separando essa região do resto do país, encontramos um milagre económico semelhante ao irlândes...

Joao Augusto Aldeia disse...

De acordo, excepto quanto ao Brasil. Eu sei que não se podem tirar conclusões fiáveis de raciocínios tão simplistas, mas o certo é que, de todos os territórios colonizados por europeus, são as ex-colónias portuguesas as que se encontram pior colocadas no índice do desenvolvimento humano, com excepção do Brasil - talvez por ter sido a colónia que mais cedo se libertou.

Por outro lado, a ida da corte portuguesa para o Brasil dificilmente se pode atribuir a um acto de vontade própria nacional, muito embora a ideia de fazer deslocar para o Brasil a capital do império português tenha sido defendida, ainda antes das invasões francesas, com intuitos desenvolvimentistas.