sábado, dezembro 11, 2004

Olha, Pedro...


O nosso bem amado Presidente diz que foi "uma sucessão negativa de acontecimentos que criou uma grave crise de credibilidade do governo". Ainda bem que, em Portugal, duas negativas não fazem uma positiva...

Mas, a sério: creio que a questão da credibilidade é fundamental. Como já referi noutro post, quando não se tem atrás de si uma forte credibilidade - nomeadamente a que é proporcionada pela escolha das urnas - não se devem aceitar cargos públicos.

Isto mesmo foi confirmado numa entrevista de Dias Loureiro à TSF onde revelou este cândido conselho que deu ao PM: «Olha Pedro, soltaram-se para aí uns demónios e eu acho que não vão parar, e se queres o meu conselho, é melhor demitires-te". E ele na altura concordou».

No fundo, esta é outra versão da reveladora metáfora do "bebé na incubadora". O certo é que esta seita que passou pelo governo teve o dom de se autoflagelar até ao delírio. Como se pode explicar, por exemplo, a "revelação" de Dias Loureiro à luz da racionalidade?

Ora: cherchez la femme, ou seja, tudo agora tem que ser lido à luz das eleições e da campanha eleitoral. Teria sido melhor para Santana Lopes não ter sido apeado; mas, a sê-lo, então teria sido preferível ser ele a demitir-se (do ponto de vista dele, entenda-se). O que Dias Loureiro faz é colocar na nossa retina o filme desse "não-acontecimento". Pode ser que pegue. Pois se a coisa até esteve para acontecer...

A revelação de Dias Loureiro tem ainda outra leitura: do ponto de vista do Governo, a interrupção do processo governativo não era considerada nenhuma anormalidade, pelo contrário: era uma hipótese plausível e razoável. "Ele na altura concordou". Fugiu-te a boca para a verdade.

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