segunda-feira, dezembro 13, 2004

O valor de ser Doutor


Valerá a pena investir num curso superior em Portugal ? Se levássemos em conta a "sabedoria" destilada sobre o assunto pela generalidade dos comentadores e analistas, dir-se-ia que não. Mas o Dr. Pedro Portugal, investigador do Banco homónimo e docente da Nova, estudou o assunto com método e concluiu o contrário. A saber:

O benefício monetário esperado do investimento pessoal em educação superior é elevado. Um investimento de cerca de 26 mil euros pode gerar um retorno acumulado de 200 mil euros; a taxa de rentabilidade real (15 %) é maior do que qualquer outra modalidade de investimento financeiro.


Consequentemente aquele investigador chama a atenção para uma lacuna do nosso sistema financeiro: a ausência de empréstimos para financiamento de cursos superiores

Outro aspecto revelado, oriundo de um estudo da OCDE, é o de que o défice de qualificações académicas contribui para uma quebra de cerca de 1,2 % do nosso PIB.

A visão de que temos "doutores a mais" ou de que formamos “doutores para o desemprego” não passa pois de um mito.

Documento disponível on line em: "Mitos e factos sobre o mercado de trabalho português: a trágica fortuna dos licenciados", Boletim Económico do Banco de Portugal (Março de 2004). O mesmo estudo deu origem a esta notícia do Público.


3 comentários:

Luis Gaspar disse...

Duas ressalvas: fui aluno dele e não li o artigo. Mas mesmo assim pergunto-me que variáveis introduziu ele no modelo. E que forma é que especificou. O retorno acumulado pode ser linear? E se não for linear, como estimar a sua forma? O retorno depende de que variáveis? A riqueza dos pais, por exemplo, vai ter influência determinante no nível de ensino superior dos filhos em pelo menos 3 formas não necessariamente compatíveis: vai aumentar o incentivo ao lazer dos filhos, vai permitir-lhes entrar em melhores empregos através de cunhas e serve de sinal que o ensino antecedente à faculdade foi melhor e mais completo. Por sua vez, a direcção da causalidade não é linear: se é verdade que maior estudo poderia aumentar a produtividade e, por isso, os salários, os salários podem aumentar a produtividade, e esta pode aumentar os ganhos visíveis de ser licenciado. Com direcção causal dupla, os estimadores não são só enviesados, são inconsistentes.

Penso que a análise de Stiglitz, num contexto de informação assimétrica, é muito mais interessante que um modelo estático de equilíbrio parcial. Ir para a faculdade não tem nada a ver com adquirir cultura ou métodos de trabalho mais sofisticados, mas com a sinalização ao mercado de trabalho que somos riquinhos por natureza (para lá estar), pelo que já tivemos uma cultura precedente, podem confiar em nós e na nossa estabilidade emocional, etc...

Joao Augusto Aldeia disse...

Bem, trata-se de uma análise simples do retorno financeiro de um investimento numa licenciatura em Portugal. Parece-me importante porque contraria alguns dos lugares-comuns que se propagam sobre o assunto.

Muitos outros aspectos se podem estudar. Pode ser que o investimento seja rentável numa análise financeira individual, mas não em termos do país (que financia parte do investimento), ou da qualidade da cultura adquirida. Pode ser. Mas já não me admiraria nada que estudos sérios viessem desmentir muito do senso-comum que, com a moda catastrofista que agora grassa no país, tudo arrasa.

Anónimo disse...

É bom que se façam muitos mais destes estudos ainda que com alguns erros. eu pelo menos sinto que pode e deve ser ponderado, pelo menos na escolha de uma licenciatura que já não é tão linear como se pode pensar!!