quinta-feira, julho 08, 2004

As paixões compensadoras

Uma tese interessante: a crítica de Friedman e Fukyama seria apenas dirigida aos países em desenvolvimento, e não aos países desenvolvidos.

Se isto fosse verdade, então teriam de existir (pelo menos) duas teorias económicas diferentes: uma para os ricos, outra para os pobres. A Economia seria apenas contingencial. Mas o certo é que Fukyama também se refere aos países desenvolvidos, citando os escândalos Enron e WorldCom.

Hayek e outros na mesma linha mostraram como as burocracias socialistas e o planeamento racional totalitário eram caminhos errados, e os acontecimentos posteriores sempre lhes deram razão. Agora, se se provar que a "mão invisível" também não leva a lado nenhum, isso não significa que os "estatistas" tenham razão, mas apenas que o caminho tem de ser procurado noutro lado.

Em As Paixões e os Interesses ("argumentos políticos para o capitalismo antes de seu triunfo") Albert Hirschman mostra como, na fase inicial do capitalismo, a "mão invisível" era vista apenas como um escape "relativamente melhor" do que as guerras e os crimes, para a natureza violenta do ser humano. É a tese das "paixões compensadoras": procurar a riqueza (e o poder ?) através dos negócios sempre seria melhor do que através de outros meios moralmente mais reprováveis. Posteriormente essa força motora do capitalismo foi travestida numa espécie de "bondade criadora" (de riqueza, entenda-se). Ao que parece, estamos agora a descobrir o demónio por trás do ídolo.

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