quarta-feira, novembro 24, 2004

O não-economista Krugman


Delicioso texto de William L. Anderson, apostado na "desconstrução" do keynesianismo de Paul Krugman, por ele designado como um não-economista (noneconomist):
"Sim, Krugman tem um doutoramento do MIT em Economia, mas os seus escritos, tanto os populares como os académicos, demonstram que ele não acredita nas leis da Economia. Pelo contrário, como muitos outros com inclinações socialistas, acredita que o Estado é omnisciente e omnipotente e que simplesmente por decreto pode eliminar aqueles pequenos e desagradáveis problemas originados pela escassez."
E, mais para o lado teórico:
"Os economistas sabem, desde os primeiros dias da revolução marginalista, que é impossível fazer a comparação da utilidade interpessoal. Embora conceitos como "excedente do consumidor" e "perda de bem-estar social" possam ser apresentados na forma de gráficos, como ferramentas de ensino, não passam de ficções uma vez que o seu uso requer a medição da utilidade cardinal, e não apenas ordinal. Naturalmente, o uso da utilidade cardinal permite aos economistas apresentar a teoria económica em termos matemáticos através de cálculo multivariado, razão pela qual continua a ser usada como ferramenta explicativa, apesar de ser uma fraude."
Enfim: teórico, ma non troppo. O Mises Institute está repleto desta tralha ideológica© que pouco adianta para o conhecimento científico mas, seguramente, ajuda à propagação da causa.

(© VJS)

2 comentários:

Luis Gaspar disse...

Discordo veementemente. Paul Krugman é o melhor economista da sua geração, e é até bastante ortodoxo. Sem ele nunca teríamos rendimentos crescentes à escala matematizados, e se isso não é acreditar nas "leis" da Economia, é pelo menos conceber novas e muito mais brilhantes Leis que aquelas que o neoclassicismo concebeu alguma vez criar. Achar que Paul Krugman não é economista é o mesmo que pensar que Stephen Jay Gould não é biólogo. Arrisco a dizer mais: sem Paul Krugman e Joseph Stiglitz, tenho dúvidas que a Economia fosse sequer aceite fora dos EUA, hoje em dia, salvo numa ou duas escolas europeias. É que nem sequer a Nova, a faculdade mais ortodoxa que já conheci (mais ortodoxa que a LSE, seguramente), prescinde de Krugman.

Joao Augusto Aldeia disse...

Concordo em que o trabalho mais inovador de Krugman seja a modelização dos rendimentos crescentes à escala e a sua aplicação em vários domínios - nomeadamente o da localização geográfica, com consequências para a explicação do comércio internacional. Mas não creio que a a ceitação da Economia (enquanto área do conhecimento) esteja assim tão dependente desses dois investigadores.