terça-feira, novembro 23, 2004

Açúcar amargo


A produção portuguesa de açúcar, altamente apoiada por subsídios comunitários, sente-se ameaçada com o anunciado fim daqueles apoios - notícia do DN. O que choca neste relato é que não revela um pingo de orgulho económico: subsiste-se à conta do subsídio e, quando este ameaça desaparecer, lá vem o choradinho. Mas não sabe toda a gente que os subsídios à produção são, por definição, temporários?

Diz um dirigente agrícola que a redução de subsídios «iria arrasar o sector, que já trabalha com margens reduzidas e, no caso de Portugal, tem custos acrescidos de água e energia». Quer dizer que a existência de margens reduzidas e custos de produção elevados são justificação para subsídios? Ridículo...

Curiosa também é a pompa com que se anuncia a catástrofe: «o sector de produção de açúcar está em risco de acabar em Portugal caso a Comissão Europeia avance com as propostas para a reforma dos subsídios à produção daquele produto».

Existe, neste tipo de argumentação, uma exploração abusiva do genuíno sentimento nacionalista. As pessoas afligem-se de facto com a possibilidade do país poder vir a perder elementos fundamentais da sua identidade. Mas é abusivo vir defender o proteccionismo de sectores económicos (ou de empresas) com o argumento de que estamos a ser "invadidos" ou "comprados" ou "ultrapasados" por esses malandros dos "europeus", particularmente quando não existe qualquer sentimento nacionalista nesses empresários que, mais cedo do que tarde, venderão o negócio a quem der melhor preço.

Vários países europeus que se sentem afectados pela intenção da União de liberalizar este sector, emitiram uma carta onde defendem que a produção do açúcar se deve manter por todo o território comunitário. A decisão da União Europeia vai ser tomada a contra-gosto e resulta de uma queixa feita junto da OMC pelo Brasil e outros países, que acusam a União de garantir aos produtores europeus o preço de 632 € por tonelada, quando o preço mundial ronda apenas os 200 € (ver notícia).

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