sexta-feira, julho 03, 2009

 o ex-ministro Manuel Pinho sem maquilhagem nem adereços taurinos Quando o ouvia dizer que mal dormia pensava se não seria daqueles que sabia mais a dormir do que acordado. Agora pode dormir descansado, depois de ter feito passar por cordeiro o pequeno parlamentar que o provocou. Igual a si própria, a Assembleia ofendida escorraçou o ensonado trabalhador, fez suas as profundas dores do pequeno provocador e, como sempre, pesou mais a emoção do momento do que a razão do País. A Casa da Chinfrineira aplicou o velho truque de passar por ter boquinha pequena ao escancarar a bocarra, por ela mesma ampliada, dum bandarilheiro que devia ter estado calado naquela altura, porque o lema ali é: quando um da Casa fala as visitas baixam as orelhas. Já a um parlamentar tudo é permitido e perdoado (como aconteceu recentemente com José Eduardo Martins) incluindo dormir em vez de trabalhar. O Parlamento é apenas isso: a válvula de escape da manha nacional, ela a quem todo o sucesso alheio ofende.

Ah, mas no tempo em que os tordos falavam ainda se podia (ouvir) cantar:
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.
Entram vacas depois dos forcados          
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.
 

ex-ministro Manuel Pinho

2 comentários:

Anónimo disse...

Dr Aldeia,

Como muitos outros que se têm pronunciado sobre a edificante cena, parece que também alinha, ainda que de forma "soft", pelo argumento de que o ex-ministro foi "provocado".(os violadores, por exemplo, recorrem com frequência a esta "atenuante"). Era bom que se esclarecesse qual o conteúdo da "provocação", porque, quanto à forma, não vi nada que justificasse a atitude, sobretudo vinda de uma pessoa "educada". Era interessante saber onde se situa a verdade dos factos relativamente ao caso do "cheque/EDP/homenagem pelo Aljustrelense". Alguém mente: ou o ex-ministro ou o deputado. Fico com a sensação de que ninguém está interessado nessa "verdade" para que cada um possa continuar a vender a sua. Este desinteresse não se confina aos protagonistas mas também às hostes correspondentes. Duas coisa me parecem mais ou menos pacíficas: o episódio deu visibilidade ao país e, se não estivesse lá a maquineta da televisão, o ex-ministro ainda o seria, independentemente da boçalidade manifestada.
N.Gomes

Joao Augusto Aldeia disse...

A minha opinião é sobre o teatro das provocações e não sobre as "justificações" subjacentes. Se fosse esse o caso, teria de se saber que tem razão quanto ao cheque e então ou um, ou outro, teriam atenuantes. Mas não foi sobre isso que escrevi, e acho que nenhum tem atenuantes. Escrevi sobre a hipocrisia parlamentar que permite a um deputado atirar "bocas" enquanto um primeiro-ministro fala, e insultos frequentes e violentos entre os "pares", mas acha uma ofensa imensa o gesto do ministro. Não defendo nenhum dos dois: estão bem um para o outro. Tenho a sorte de não pertencer a nenhum "clube" que me leva a achar normal num o que critico no outro.