Quando o ouvia dizer que mal dormia pensava se não seria daqueles que sabia mais a dormir do que acordado. Agora pode dormir descansado, depois de ter feito passar por cordeiro o pequeno parlamentar que o provocou. Igual a si própria, a Assembleia ofendida escorraçou o ensonado trabalhador, fez suas as profundas dores do pequeno provocador e, como sempre, pesou mais a emoção do momento do que a razão do País. A Casa da Chinfrineira aplicou o velho truque de passar por ter boquinha pequena ao escancarar a bocarra, por ela mesma ampliada, dum bandarilheiro que devia ter estado calado naquela altura, porque o lema ali é: quando um da Casa fala as visitas baixam as orelhas. Já a um parlamentar tudo é permitido e perdoado (como aconteceu recentemente com José Eduardo Martins) incluindo dormir em vez de trabalhar. O Parlamento é apenas isso: a válvula de escape da manha nacional, ela a quem todo o sucesso alheio ofende.
Ah, mas no tempo em que os tordos falavam ainda se podia (ouvir) cantar:
Entram guizos chocas e capotes e mantilhas pretas entram espadas chifres e derrotes e alguns poetas entram bravos cravos e dichotes porque tudo o mais são tretas. Entram vacas depois dos forcados que não pegam nada. Soam brados e olés dos nabos que não pagam nada e só ficam os peões de brega cuja profissão não pega. |
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ex-ministro Manuel Pinho
2 comentários:
Dr Aldeia,
Como muitos outros que se têm pronunciado sobre a edificante cena, parece que também alinha, ainda que de forma "soft", pelo argumento de que o ex-ministro foi "provocado".(os violadores, por exemplo, recorrem com frequência a esta "atenuante"). Era bom que se esclarecesse qual o conteúdo da "provocação", porque, quanto à forma, não vi nada que justificasse a atitude, sobretudo vinda de uma pessoa "educada". Era interessante saber onde se situa a verdade dos factos relativamente ao caso do "cheque/EDP/homenagem pelo Aljustrelense". Alguém mente: ou o ex-ministro ou o deputado. Fico com a sensação de que ninguém está interessado nessa "verdade" para que cada um possa continuar a vender a sua. Este desinteresse não se confina aos protagonistas mas também às hostes correspondentes. Duas coisa me parecem mais ou menos pacíficas: o episódio deu visibilidade ao país e, se não estivesse lá a maquineta da televisão, o ex-ministro ainda o seria, independentemente da boçalidade manifestada.
N.Gomes
A minha opinião é sobre o teatro das provocações e não sobre as "justificações" subjacentes. Se fosse esse o caso, teria de se saber que tem razão quanto ao cheque e então ou um, ou outro, teriam atenuantes. Mas não foi sobre isso que escrevi, e acho que nenhum tem atenuantes. Escrevi sobre a hipocrisia parlamentar que permite a um deputado atirar "bocas" enquanto um primeiro-ministro fala, e insultos frequentes e violentos entre os "pares", mas acha uma ofensa imensa o gesto do ministro. Não defendo nenhum dos dois: estão bem um para o outro. Tenho a sorte de não pertencer a nenhum "clube" que me leva a achar normal num o que critico no outro.
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