terça-feira, outubro 03, 2006

Percentis

Alguns economistas, preocupados com a incompetência dos nossos trabalhadores e empresários, têm vindo a insistir na necessidade aperfeiçoar o sistema de incentivos e, sobretudo, os mecanismos de penalização dos incompetentes. No entanto, uma esquecida investigação de Justin Kreuger e David Dunning, "Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments", pode levar a conclusões muito diversas.

Através de 4 estudos, os autores descobriram que "os participantes com pontuações no quartil inferior em testes de humor, gramática e lógica, sobrestimaram grosseiramente as suas capacidades". De acordo com as conclusões, os incompetentes são vítimas de uma dupla deficiência: "Não só estas pessoas chegam a conclusões erradas e fazem escolhas infelizes, como a sua incompetência rouba-lhes a capacidade metacognitiva para ter consciência do facto". Topam? Eles são incompetentes, mas não sabem que são incompetentes, precisamente porque são incompetentes. Portanto, são apenas vítimas.

Abrindo seu o artigo com uma citação de outro autor (W. I. Miller, "Humiliation", 1993), dir-se-ia que já nada mais haveria a investigar: "Uma das características essenciais dessa incompetência é que a pessoa é tão limitada que é incapaz de saber que é incompetente. Se tivesse esse conhecimento já seria uma grande ajuda para curar a deficiência". Mas aqui é que está o grande lampejo, quiçá mesmo o génio, dos investigadores da Universidade de Cornell: se a ciência conseguir que estas pessoas atinjam a compreensão da sua própria incompetência, ficariam praticamente curadas, ou seja: competentes. Portanto, já não é preciso perder tempo a formar pessoas ou a castigá-las com incentivos negativos: basta pôr-lhes um espelho à frente. Porque é que não nos lembrámos disto antes? Estaremos nós no percentil inferior?

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