segunda-feira, outubro 16, 2006

Mistura e frescura

     No debate desta noite, na RTP1, sobre a proposta de uma nova Lei de Finanças Locais, escutaram-se algumas originalidades.
     Durante a discussão entre o ministro António Costa e alguns presidentes de Câmara sobre a "defesa do interior" (que é o grande argumento do governo em favor da proposta) a certa altura o presidente da Associação Nacional de Municípios, Fernando Ruas, referiu ironicamente as medidas que o governo tem tomado de encerramento de maternidades, de escolas, de urgências hospitalares, e que seriam reveladoras do "interesse" que o governo tem pelos municípios do interior. Nesse momento António Costa interrompeu com o à-parte: "Não misture debates! Não misture debates!". Ou seja: segundo o ministro, Fernando Ruas, num debate sobre Finanças Locais, não poderia falar de outros assuntos, os quais deveriam ficar reservados para os respectivos debates! Eis pois revelado o critério de definição da agenda política: os "debates".
     Noutro momento, em que se discutia animadamente a legitimidade política do Governo e dos autarcas, Fernando Ruas defendeu as câmaras salientando que, quando votam, os eleitores conhecem aqueles que virão a ser os autarcas eleitos, mas não conhecem os que virão a ser ministros, e além disso as eleições autárquicas teriam sido mais recentes do que as legislativas. Ou seja: segundo disse Fernando Ruas, os autarcas têm uma "legitimidade reforçada, e fresca!".
     Saldanhas Sanches, falando de cátedra sobre o tema, repisou a ideia de que as Câmaras querem é gastar o dinheiro dos impostos, mas não querem ter o odioso de os cobrar. Fernando Ruas contrapôs que sim, que o querem e o têm pedido, e até foram recentemente a Espanha estudar um caso. Resposta rápida de Saldanha Sanches: "Não era preciso viajar tanto!... Vocês viajam tanto!"

Sem comentários: