Rudiger Dornbusch Rudiger Dornbusch, economista do MIT falecido em 2002, foi quem orientou mais directamente a equipa de doutorandos do MIT que esteve em Portugal em 1976 a elaborar, para o Banco de Portugal, o relatório "A Economia portuguesa: evolução recente e situação actual". Desta equipa fazia parte Paul Krugman que, numa nota de homenagem a Rudi Dornbusch, recorda (aqui) o seguinte episódio ocorrido durante esse período:
«No Verão de 1976, um grupo de estudantes do MIT foi fazer um trabalho para o Banco de Portugal. O contacto inicial veio de Richard Eckaus, mas o líder efectivo da nossa missão - o homem que nos situou no terreno, apesar de depois termos trabalhado sozinhos - foi Rudi. Já escrevi acerca desta "cruzada de crianças" no ensaio "Incidentes da minha carreira", mas deixem-me acrescentar um pouco acerca do trabalho de Rudi.
«A primeira coisa de que me recordo é de ter chegado - muito "jet lagged" - e de ir quase directamente para uma reunião com o Governador. Rudi também tinha acabado de chegar, mas estava totalmente concentrado e acutilante. Nunca consegui igualar a sua capacidade de viajar bem, mas aprendi dessa experiência a importância de ultrapassar as fragilidades quando há trabalho importante a fazer.
«Mas mais importante foi o que nos disse depois, em privado. Mais ou menos, disse-nos para contarmos apenas connosco próprios. Os funcionários locais tinham toda a experiência e informação, mas eles não conheciam necessariamente melhor do que nós o que estava certo ou o que seria mais apropriado. Rudi alcunhou um determinado responsável, particularmente pomposo, como o "Ministro dos Passos Cómicos" ["Minister of Funny Steps"] - exactamente o tipo de desanuviador de tensão de que necessitávamos.» Quem seria o "Ministro dos Passos Cómicos"?
É provável que Krugman se refira a Francisco Salgado Zenha, que foi Ministros das Finanças (do VI Governo Provisório) até ao dia 23 de Julho - o relatório tem data de 6 de Agosto e deve ter demorado algumas semanas a elaborar. Formado em Direito e sem qualquer especialização económica, Salgado Zenha ficou conhecido por várias gafes, a mais notável das quais foi a de ter respondido a um jornalista que o questionava sobre a recente subida de preços decretada pelo Governo, que só se tinha apercebido dos aumentos "quando fui encher o radiador com gasolina". Não se pode dizer que Salgado Zenha fosse especialmente pomposo, mas um primeiro contacto de economistas académicos com o peculiar Zenha pode ter deixado essa impressão. |
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