Segundo o jornal "Público", empresários portugueses iniciaram ontem um debate sobre problemas de ética empresarial, no âmbito do "I Forum Português da Responsabilidade Social das Organizações", de que é presidente José Roquette.
Rui Vilar, presidente da Fundação Gulbenkian, salientou que «as empresas devem investir em actividades de responsabilidade social, pois estas representam activos fundamentais numa gestão empresarial moderna.»
Em 1966 teve lugar o "1º Congresso Português de Ética Empresarial".
Deverão as empresas preocupar-se com questões sociais? Ou contribuirão melhor para a vida em sociedade limitando-se ao negócio? Sobre este dilema e correspondente debate, Ian Davis escreve, no Economist, o artigo "The biggest contract":
«Dum lado estão aqueles que argumentam (para usar a expressão de Milton Friedman) que "o negócio dos negócios é o negócio". Esta crença encontra-se mais consolidada na economias anglo-saxónicas. Segundo este ponto de vista, os temas sociais são marginais às preocupações da gestão de empresas - o seu único objectivo legítimo é o de criar valor para o accionista.
Do lado oposto encontram-se os defensores da "Corporate Social Responsibility" (CSR), um movimento algo difuso mas em rápida expansão, que abrange tanto as empresas que já praticam o CSR como grupos de pressão que argumentam que as empresas têm de ir ainda mais longe na minimização dos impactos sociais que provocam.» O autor do artigo considera que ambas as posições obscurecem a importância do temas sociais para o sucesso dos negócios. No caso do grupo que defende a restrição das empresas aos negócios, Ian escreve que prejudica as empresas de dois modos:
«Os temas sociais só não são tangenciais para as empresas, como são fundamentais. De um ponto de vista defensivo, as empresas que ignoram o sentimento público tornam-se vulneráveis a ataques. Mas as pressões sociais podem igualmente funcionar como indicadores precoces de factores-chave para a lucratitividade das empresas. (...) São muitos os exemplos do impacto de longo prazo dos temas sociais., e o seu número cresce rapidamente. No sector farmacêutico, uma tempestade de pressões sociais nas últimas décadas - decorrente de percepções de preços excessivos cobrados por medicamentos para a Sida nos países em desenvolvimento, por exemplo - está-se agora a transformar num estreitamento geral (e por vezes indiscriminado) do quadro regulatório. Outro exemplo ocorre no sector da restauração, onde o antigo e crescente debate sobre a obesidade está a resultar em pedidos de maior controlo sobre o mercado de comidas não saudáveis»
Mas Ian também levanta dúvidas sobre a atitude dos defensores do CSR:
«A sua popularidade (...) derivou em grande medida de uma série de campanhas anti-empresariais de final dos anos 90. Por outro lado, receberam um forte impulso dos movimentos anti-globalização dessa altura. Desde então as empresas passaram a dar mais atenção ao CSR, atraídas por noções sonantes, ainda que vagas, tais como a "triple bottom line": a ideia de que as empresas podem estar tanto ao serviço de objectivos sociais e ambientais como dos lucros. Esta atitude tem sido encarada pelas empresas como um modo de evitar a artilharia das ONGs e potenciais ataques sobre a reputação, bem como um modo de mitigar as arestas mais afiadas do capitalismo. (...) A CSR apresenta uma agenda limitada para a acção empresarial porque não consegue captar a importância potencial dos temas sociais para a estratégia empresarial» |
Documentos relacionados:
"A Ética na vida empresarial" - José H.S. Brito "Ética Empresarial e Económica" (Introdução) - José Manuel Moreira Código de Ética Empresarial disponível no site da Associação Portuguesa de Empresários e Gestores.
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