O nome de Robert Aumann, um dos laureados deste ano com o Nobel da Economia, aparece ligado a uma polémica acerca dum presumível "código secreto" existente no Antigo Testamento(na Tora) e que teria sido possível descobrir através de rotinas de computador. Os segredos estariam contidos em frases constituídas por palavras posicionadas de forma equidistante (equidistant letter sequences - ELS) no livro do Genesis. O facto extraordinário contido nos "códigos secretos" seria o dessas palavras revelarem acontecimentos que só vieram a ocorrer muitos séculos depois. A polémica, paradoxalmente, nasceu no campo científico, com a publicação na revista "Statistic Science", em 1994, do estudo realizado por Doron Witzum e outros: "Equidistant letter sequences in the Book of Genesis", causando grande perplexidade na comunidade de cientistas. O artigo descreve uma experiência que parece mostrar uma notável proximidade entre os nomes de rabis e as suas datas de nascimento ou morte, no livro do Genesis. Na Internet vendem-se programas informáticos que "usam o mesmo método descoberto por cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém para descodificar acontecimentos e nomes do passado, do presente e do futuro, incluindo o seu próprio nome e o da sua família, os quais foram codificados na Bíblia há 3 mil anos". Noutra das versões que corre na Internet, por exemplo, diz-se que «a palavra Titanic aparece sete vezes na Tora, duas delas cruzada com uma palavra hebraica que significa 'afundado'. Jesus o Messias aparece codificado várias vezes. Yitzhak Rabin foi encontrado apenas uma vez, cruzado com assassino que assassinará.». O próprio Witzam é classificado como um judeu misterioso, especialista da Tora, académico ultra-ortodoxo, quase 'santo'. Em 1997 surgiu o inevitável livro "The Bible Code", escrito por Michael Drosnin. O nome do professor Aumann aparece ligado a esta controvérsia por ter apoiado a publicação do artigo de Witzum e ter-se confessado impressionado com o grau de precisão dos resultados, segundo ele muito maior do que muitas experiências científicas. Aumann propõe que se olhe para os factos sem preconceitos. Existe muita literatura sobre este assunto. Um caso conhecido é o da experiência em que se aplicou o mesmo método a outra obra - "Guerra e Paz", de Lev Tostoi - tendo-se obtido os mesmos resultados, e desta forma desmistificando o trabalho de Witzum: Equidistant Letter Sequences in Tolstoy's "War and Peace". Witzum respondeu aqui. Outro trabalho que contesta os "códigos secretos" é Solving the Bible Code Puzzle de Brendan McKay e outros. McKay mantém uma divertida página na Internet sobre a desmistificação dos "códigos" onde, por exemplo, se revela ter-se encontrado no livro "Moby Dick" previsões sobra a morte da princesa Diana e do autor do livro já referido, Michael Drosdin. Mesmo para aqueles que não perderiam tempo a analisar semelhante hipótese, por a considerarem disparatada, esta polémica tem uma outra relevância: se o método científico, aplicado com rigor matemático a um livro, comprova hipóteses ridículas mas que são consistentes e apresentam elevado grau de precisão, então pode ser o próprio método científico que está em causa. Dito de outra forma: quantas "descobertas" científicas, rigorosamente comprovadas, não terão a mesma consistência dos "códigos secretos"? Isso explicaria porque é que tantos cientistas se têm ocupado a contestar o rigor metodológico da experiência de Witzum. E explicaria também a perplexidade de Robert Aumann. |
terça-feira, outubro 11, 2005
O Nobel e os "códigos secretos" do Genesis
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