sábado, julho 30, 2005

Otites e tergiversações (II)


Rui in Adufe:
«Não é então razoável que eu, eleitor deste governo, me pergunte (não é preciso o ministro) que TGV e que aeroporto se vão fazer? Comboio a 200 ou a 320 à hora? Com que dinheiro? Com que gestão? Com que sustentação e com que impacto nos Orçamentos de Estado futuros? E com que retorno esperado para a economia nacional?»
In jornal Público:
«O ministro da Economia justificou hoje [num artigo de opinião publicado no jornal "Expresso"] a importância da construção do novo aeroporto de Lisboa e do comboio de alta velocidade pelas mais-valias que trazem para o crescimento e competitividade da economia portuguesa. (...) Manuel Pinho indica ainda que o novo aeroporto é financiado "quase exclusivamente pelo sector privado", considerando este "um projecto rentável". Manuel Pinho argumenta também que Portugal não pode ficar "paralisado" e isolado, numa altura em que os espanhóis têm já 9000 quilómetros de auto-estradas e querem alargar a rede de alta velocidade para os 10.000 quilómetros.»
Vicente Jorge Silva in Diário de Notícias:
«Assim, a partir do momento em que a agenda política do Governo passou a ser condicionada por este imperativo [medidas de austeridade draconianas que se revelaram inevitáveis devido ao estado das finanças públicas], era forçoso que outras componentes do seu programa fossem reavaliadas e objecto de uma nova síntese, nomeadamente as prioridades do investimento público e os megaprojectos da Ota e do TGV. Ora, isso não aconteceu, como se fosse possível conciliar estritamente a agenda pré-eleitoral e a agenda pós-eleitoral - e os sacrifícios exigidos aos portugueses não obrigassem a um maior rigor cirúrgico na política de investimentos.»
Ruben de Carvalho in Diário de Notícias:
«É necessário discutir se a Ota e o TGV são bons investimentos públicos - mas não é isso que está a acontecer recorrendo às dúvidas que os dois projectos levantam, o que a direita e o capital procuram é generalizar a ideia de que todo o investimento público é mau.»
João Vieira Pereira in Semanário Económico:
«O que move o governo em teimar levar avante com obras que poucos ou mesmo nenhuns defendem é algo desconhecido. Até agora a única justificação para a construção da OTA e do TGV é birrento “porque sim”. A força do populismo político é maior do que qualquer justificação. O poder político precisa de mostrar trabalho e de ter metas reais a que apontar.
O plano tecnológico já é história. Agora é a OTA e o TGV que contam. Duas obras sobre as quais nada sabemos e que só começarão a ter efeitos visíveis sobre a economia lá para 2010. Mas duas obras que, pela força de Manuel Pinho e de Mário Lino, e com a complacência de José Sócrates, se tornaram a bandeira política deste Governo.»
Manuel Alegria in Semanário Económico:
«(...) milhares de analistas, economistas, jornalistas e “treinadores de bancada” que pululam por este País e que peroram sobre tudo e nada com uma desfaçatez que chega a chocar. Com raras e honrosas excepções, o que temos assistido nos últimos tempos acerca dos projectos da Ota e do TGV é bem ilustrativo desta autêntica paranóia de ser ouvido ou marcar posição, mesmo que do assunto em causa pouco ou nada se conheça. O que pouco interessa, desde que se alinhe pelo discurso da moda, aquele que alguém, bem ou mal intencionado, preparou para que outros, muitos, se possível, debitem a seu belo prazer em meios de comunicação ávidos de sensacionalismo.»
Pedro Ferraz da Costa in Diário de Notícias:
«O Governo deixou-se arrastar pelas máquinas de promoção dos grandes projectos e desistiu de assegurar o insubstituível papel do Estado na articulação de políticas e na compatibilização das diversas redes portos, aeroportos, estradas e ferrovias. As opções da Ota e do TGV são duas manifestações desse afastamento das realidades, quer quanto aos custos de investimento e de operação, quer quanto à inoportunidade estratégica face a necessidades mais prementes.»
José Pacheco Pereira in Abrupto:
«Todos nós ficaríamos mais informados e poderíamos discutir melhor, aceitando inclusive as razões do governo para tão vultuoso e controverso investimento. Não há nada a temer pois não? Não há segredos de estado, pois não? Não há razões para não se conhecerem, pois não? Até já deviam estar na rede. Eles devem estar feitos em suporte digital, é suposto. Por isso, ainda hoje podem ficar em linha, ou este fim-de-semana. Não há razões para demora. Sugiro também, para no governo se ouvir melhor, que outros blogues e mesmo os meios de comunicação social possam todos os dias repetir a pergunta, o pedido, até ele ter a única resposta razoável. SFF.»
Carlos Manuel Castro in Tugir:
«Os defensores do novo aeroporto dizem que a Portela estará esgotada dentro de uma década. Mas, e os restantes aeroportos? Pedras Rubras, Faro? Será que Portugal só tem um aeroporto?
Continua a lógica do puro centralismo, que no caso do aeroporto, de central nem tem muito.»
Nicolau Santos in Expresso:
«Pois agora que aparece um Governo, que disse expressamente em campanha que queria compatibilizar o combate ao défice com o desenvolvimento e o investimento público, aqui d' El Rey que não é possível, tem de se deixar cair a Ota, o TGV e «tutti quanti», porque senão não conseguimos controlar o défice. Em matéria da qualidade do investimento público há certamente um grande debate para fazer - e parece que o Governo está disposto a fazê-lo a partir de Setembro. Em qualquer caso, sem investimento, público e privado, é que o país não vai para a frente. Se são «estes» os investimentos públicos que devem ser feitos é a questão que deve ser discutida. Mas está fora de causa que seja negativo que o Governo tenha dado aos agentes económicos, no início da legislatura, a informação sobre as grandes apostas que pretende fazer nesta matéria ao longo dos próximos quatro anos.»
José António Lima in Expresso:
«[Sócrates, na entrevista à SIC] foi convincente na justificação do pacote de investimentos do Governo, na defesa da Ota, do TGV (embora em versão minimalista, deixando cair alguns troços) e de outras obras públicas. Argumentando com a necessidade de não paralisar a economia do país, de ser absurdo que a rede de alta velocidade europeia acabe em Espanha ou de ser insensato não preparar alternativas para o esgotamento operacional a prazo do aeroporto da Portela.»

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