sábado, abril 09, 2005
Belmiro
Está na moda atribuir todos os males da nossa economia ao peso do Estado e anunciar, como solução para todas essas maleitas, o respectivo corte. É a versão contemporânea da "banha da cobra". Por isso são de salientar as declarações de um dos nossos capitães da indústria (e não só), Belmiro de Azevedo, que coloca antes a tónica na necessidade, na função pública, de bons gestores que invistam uma atitude permanente de competitividade. Claro que isso "implica necessariamente uma preocupação constante com a redução de custos e a inovação".
A ineficiência da função pública em Portugal é notória e, tal como nas empresas, exige uma mudança; mas acontece o mesmo nas empresas, onde os sectores protegidos e as atitudes de "rent seeking" são dominantes.
O que se passa nos países com melhor desempenho económico é que possuem uma administração pública mais eficiente, nomeadamente no domínio da regulação e fiscalização económica - o que lhes permite reduzir o respectivo peso na despesa global.
É confrangedor ler na blogosfera posts como este, propagando uma relação rígida entre o peso do Estado e o crescimento económico ("curva de Rahn"). Coerentemente com estas análises simplistas, o que os nossos liberais propõem é o desmantelamento do Estado, coisa que as empresas que praticam o "rent seeking" muito apreciariam.
Havia uma boutade keynesiana segundo a qual bastaria empregar funcionários públicos para abrir buracos e depois tapá-los para fazer crescer a economia. Os defensores do neo-liberalismo económico inventaram uma semelhante: bastaria diminuir o número de funcionários públicos para promover o crescimento.
Que cromos! Aliás, keynesianos e neo-liberais, estão bem uns para os outros: "les beaux esprits se rencontrent ".
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