quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Lá vamos nós outra vez...


A banca volta a lançar campanhas agressivas para concessão de crédito. Segundo o Diário de Notícias, trata-se de uma resposta ao "aumento da procura de crédito para compra de casa".

Ou seja: a curva da procura de crédito ter-se-á "deslocado para a direita", e os bancos preparam-se para a empurrar mais um bocadinho. Talvez já poucos se lembrem das campanhas publicitárias de finais dos anos 90, onde até se "ofereciam" mobílias completas e "aceleras" (motorizadas), campanhas essas que, mais do que qualquer "laxismo" estatal, foram responsáveis pelo aumento do endividamento das famílias.

Por um lado isto pode ser entendido como um saudável posicionamento concorrencial dos bancos face a um mercado que se dinamiza, mas também sabemos como as próprias campanhas publicitárias têm um efeito impulsionador da procura - neste caso, em detrimento de outras alternativas, tais como a poupança. Outra distorção destas campanhas é que favorecem a aquisição de edifícios novos, em alternativa à recuperação de casas antigas: um desperdício de recursos que tem ainda como consequência a desertificação e decadência dos centros urbanos e a deslocação das populações para bairros periféricos e dormitórios (e para as filas de trânsito).

Como o liberalismo económico reinante privilegia os mecanismos de mercado, as autoridades de controlo monetário pouco podem fazer para orientar o recurso ao crédito para segmentos mais eficientes em termos sociais, ou para o diminuir em favor da poupança. O único mecanismo de que o Estado dispõe é apenas o das campanhas publicitárias desincentivadoras do endividamento - mas também essas campanhas têm custos e, no ambiente de penúria actual, não é de esperar que os poíticos se preocupem muito com isso.

Eis pois um exemplo de como, num puro ambiente de liberalismo económico, o "interesse" e a "racionalidade" das empresas pode ser prejudicial ao interesse colectivo.

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