segunda-feira, fevereiro 07, 2005

I & D


«Em vez de usarmos indicadores do crescimento da I&D - do tipo: a sua percentagem do PIB -, trabalhemos com indicadores do desempenho económico do investimento científico. Um deles é o custo directo de uma patente: quanto gastamos com I&D por cada patente registada a favor de residentes? Gastamos doze vezes mais do que a média dos dezanove países que estão à nossa frente no último Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas e para os quais temos dados.»

Luís Salgado de Matos - Público

3 comentários:

Carlos disse...

Estou de acordo com a ideia de não reduzir a discussão sobre inovação ao volume de investimento em I&D. Por outro lado limitar a análise dos resultados de I&D ao numero de patentes registatas e o seu impacto financeiro aos royalties recolhidos a partir desta actividade é dum simplismo indigno dum professor universitário.

A verdade é que uma parte significativa dos projectos de I&D não resultam necessáriamente em patentes. A correlação com os "royalties" demonstra mesmo uma porofunda ignorância sobre este assunto, já que não tem em conta as receitas geradas pela aplicação dos resultados de I&D por parte da própria organização.

A este propósito ocorre-me perguntar qual é a base para medir a produtividade do subscritor do artigo - um distinto membro da comunidade de I&D nacional como se depreende da qualidade em que assina o atigo "investigador em ciências políticas (algumas más línguas vão ao ponto que estes dois termos - ciencia e política - encerram já em si uma contradição insanável -:).

Mas o mais chocante ainda é a conclusão final que parece intuir a inutilidade do investmento em I&D. Aliás esta é a atitude adoptada pela generalidade dos empresários portugueses (que o autor do artigo curiosamente se esqueceu de mencionar).

Poderíamos acrescentar que a qualidade (ou mediocridade) da investigação científica nacional não se distingue fundamentalmente da média geral do país.

Joao Augusto Aldeia disse...

Parece que o autor do artigo pretenderia aplicar aquele raciocínio de que não basta medir o impulso inicial, mas também a distância percorrida, para ter um indicador de desempenho. Nesse sentido nem sequer o número de patentes seria um indicador fiável, pois o que se pretende, em última análise, é impulsionar o desenvolvimento.

Creio que todos estes indicadores têm utilidade. O objectivo de aumentar a despesa (pública e privada) em investigação não pode de forma nenhuma ser considerado irrelevante; alguma dessa investigação poderá até nem se traduzir em descobertas relevantes, e seria difícil que uma intensificação da despesa em I&D não se traduzisse no aumento de patentes.

Concordo com a contradição inerente às "ciências políticas"; já aqui comentei esta "moda", em:

http://puraeconomia.blogspot.com/2004/11/econmicas-e-bagaceiras.htm

Carlos disse...

Só uma nota suplementar: o que me levou a tecer comentários mais críticos não foram tanto os erros de análise que mencionei anteriormente, mas sobretudo a falta de rigor augumentativo do autor - um conhecido professor universitário! Bem sei que um jornal diário não é uma revista científica mas as suas responsabilidades são por isso ainda maiores já que tem um contributo decisivo na formação da opinião pública, determinando em muitos casos os comportamentos assumidos por cada um no dia à dia.