sábado, janeiro 01, 2005

Visões simplistas


No Austríaco Lucas Mendes escreveu um post contra o salário mínimo onde se recupera uma velha teoria:
«O preço dos salários, na verdade, está relacionado com a produtividade do trabalho e esta com a disponibilidade de capital que por sua vez, depende da quantidade de poupança disponível.»
Muitas confusões numa frase tão pequena. A relação entre produtividade e taxa salarial ocorre, quando muito, a um nível sectorial e não individual; a diferenciação de salários individuais não decorre directamente da produtividade de cada posto de trabalho - é por isso que trabalhadores com o mesmo nível de produtividade auferem salários diferentes. A relação poupança-capital-produtividade é de um simplismo gritante ignorando, por exemplo, a tecnologia.

O estabelecimento de salários mínimos tem a mesma natureza do estabelecimento de horários de trabalho máximos e idades mínimas para entrada no mercado de trabalho. Os que defendem o mercado como autoridade única e suprema deviam ser coerentes e exigir o desmantelamento de todo o sistema de regulação social, o qual tem uma dimensão cultural que ultrapassa a mera análise economicista. Não há de resto economia avançada que não tenha muitos "salários mínimos" estabelecidos no âmbito das negociações laborais.

Claro que se pode discutir se determinada medida de política social é mais ou menos eficiente, mas condená-la na base de um "mandamento" económico é apenas mais uma forma de fanatismo. Tal como chamar "marxismo" a tudo o que não seja "austríaco". Tal como afirmar que «todos os países subdesenvolvidos têm salários baixos justamente porque o aporte de capital é baixo, ao passo que a mão-de-obra é abundante.» Por isso é que Richard Posner não apoia a ajuda pública ao combate à Sida: porque não vê «benefícios duma população acrescida nos países pobres».

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