O Catallarchy chamou-me a atenção para um artigo de Don Boudreaux no Cafe Hayek, que me deixou verdadeiramente pasmado.
Na sequência da catástrofe ocorrida na Ásia, é previsível que os governos tenham de intervir mais activamente em vários domínios da vida social. Um desses domínios é o do controlo de preços, para evitar subidas em flecha dado o desequilíbrio entre a oferta e a procura de certos bens. Normal? Segundo Don Boudreaux, nem pensar!
Ele vê duas vantagens na subida dos preços, mesmo em condições tão excepcionais:
«(1) encoraja os fornecedores a abastecer maiores quantidades do que normalmente fariam a preços mais baixos;Don Boudreaux não ignora a crítica decorrente: «Então e os pobres? Não serão excluídos do acesso a esses bens?» Ora ele não está muito certo disso. Ou, pelos menos, não está certo de que «as pessoas fiquem melhor com o controlo de preços pelo governo, do que sem esse controlo». E porquê?
(2) encoraja as pessoas que pretendem esses bens, agora mais excassos, a usá-los tão judiciosamente quanto possível»
Bem, explica-nos ele pacientemente: se não for o mecanismo dos preços a determinar a distribuição dos bens entre os consumidores, terá de haver outro método. E entre os métodos possíveis ele encontra principalmente: filas, mercado-negro, ligações políticas ou comerciais, ou mesmo a violência!
Vejamos: será que estar na fila é assim tão inaceitável, atendendo às circunstâncias? Pois aprendam com Boudreaux:
«Embora não decorram custos monetários de esperar numa fila, os pobres podem ter maior dificuldade em ficar afastados das suas famílias após a catástrofe, por exemplo, porque têm crianças pequenas que devem ser vigiadas, ou porque têm de ser eles a reparar pessoalmente os seus telhados e canalizações, por não terem capacidade para contratar operários».O artigo apresenta mais argumentos, mas estes chegam para amostra da insanidade do pensamento neo-clássico levado até às últimas consequências.
Notas:
- «Onde a ordem emerge» é o subtítulo do Cafe Hayek, se bem traduzi...
- Donald Boudreaux é docente da George Mason University. Um video do economista a falar sobre "A análise das decisões colectivas" está disponível aqui.
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