Notícia fresca: "O Presidente da República garante que explicou no passado dia 30 ao primeiro-ministro as razões que o levaram a iniciar o processo de dissolução do Parlamento". Logo a seguir a esta notícia ouvi perguntar numa rádio: "Quem estará a mentir?..."
Não está ninguém a mentir, pelo menos formalmente: Santana Lopes nunca disse que não conhecia as razões de Jorge Sampaio - apenas faz crer que...". Reparem:
O que Santana diz: | E então?... |
1.
Santana diz que na segunda feira o Presidente não lhe disse que ia dissolver |
Sim, mas de facto não tinha nada que lhe dizer, tivesse ou não tomado a decisão; disse-lho quando entendeu dizer |
2.
Santana diz que "alguma coisa se deve ter passado entre segunda e terça-feira". |
Certamente que sim, mas pode ter sido algo tão simples como Sampaio ter completado diligências que só a ele dizem respeito e a mais ninguém |
3.
Santana diz que o povo tem direito a conhecer a verdade |
Pois tem, mas isso não significa que se tenha de cuscar tudo a toda a hora |
4.
Santana diz que tem muito respeito pelo Presidente mas que vai ficar a aguardar as explicações oficiais do Presidente |
Respeito, pelos visto, é que não tem nenhum, porque não diz que não conhece as razões, mas insinua que não as conhece |
Santana faz~se passar por vítima utilizando os mais baixos estratagemas: jogos de palavras que procuram explorar os silêncios e contenção que o Presidente obrigatoriamente tem de observar para que tudo isto não se transforme numa peixeirada.
Um estratagema semelhante tem sido ensaiado por alguns deputados, fazendo-se passar por pobres criaturas que foram "dissolvidas" sem terem feito mal nenhum. Mas a dissolução não é nenhum castigo: é um dos mecanismos da democracia. Designá-lo como "bomba atómica" é, de resto, uma metáfora infeliz.
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