segunda-feira, novembro 08, 2004

Entropia e (de)crescimento


Não me parece difícil considerar a metáfora do “não há almoços grátis” como o equivalente, para a Economia, da 1ª lei da termodinâmica. Mais problemática é a transposição para a Economia do fenómeno físico da entropia – ou da 2ª lei da termodinâmica. No entanto é isso precisamente que tentam fazer economistas como Nicholas Georgescu-Roegen, Hazel Henderson e William Krehm.

Georgescu-Roegen (1906-1994), economista romeno, escreveu sobre este assunto o livro “The Entropy Law and the Economic Process”, de 1971. Para além de ter procurado integrar a economia e a termodinâmica, Georgescu-Roegen também o fez com a biologia evolutiva e a ecologia, pelo que é conhecido como o pai da economia ecológica:

Em termos de metáfora, leis como a da queda tendencial da taxa de lucro (de Marx) e dos rendimentos decrescentes podem ser considerados como entropias do sistema económico. E parece também evidente que tem de se reflectir na actividade económica a entropia que ocorre no mundo material. Mas estes economistas vão mais longe e tentam instituir a entropia como lei económica.

A lei física da entropia é bastante contra-intuitiva e parece ser negada a todo o momento perante os nossos olhos: dizem-nos que uma vez misturados dois líquidos de cores diferentes, eles já não se voltam a separar: o nível de organização da matéria corre inexoravelmente de patamares superiores para patamares inferiores, e chegará um dia em que tudo estará “misturado”, inerte e imóvel. Porém, nós assistimos diariamente a fenómenos opostos: os processos biológicos dos seres vivos trabalham incessantemente, e com sucesso, para estruturar a matéria em níveis elevados de organização. A actividade económica também: desde os minérios que transformamos em objectos e máquinas sofisticados, até ao incessante trabalho administrativo de arrumar letras em complexos estruturados de palavras, e papéis impressos ou manuscritos em estruturadíssimos arquivos (físicos ou electrónicos), tudo parece caminhar do nível menos complexo para o mais complexo.

Pois é, dizem os físicos, mas por cada um desses processos de organização e estruturação ocorre um outro processo de sentido inverso, que não só anula o efeito do primeiro mas que o ultrapassa, sendo o saldo final favorável à entropia.

William Krehm oferece-nos alguns exemplos: “a pressão da crescente população industrial sobre os alimentos que tanto preocupou David Ricardo depois das guerras napoleónicas e aumentou a renda fundiária na Grã Bretanha, foi ultrapassada com as “Corn Laws” e a revolução nos transportes. A necessidade de expansão dos mercados sentida pelo novo sistema industrial obteve como resposta num colonialismo agressivo e na exportação de capital. A crise dos anos 30 originada na insuficiência da procura foi resolvida pela revolução keynesiana. As técnicas keynesianas, pelo seu lado, contribuíram para a expansão do sector público ao ponto de adulterarem o sistema de sinalização (preços) do mercado. Mas, por volta dos anos 70, o sistema de preços já não tinha mais território para esta fuga em frente: “a solução que se arranjou para enfrentar aquela acumulação de entropia foi uma cruzada holística para inverter tudo o que tinha ocorrido desde os anos 30, e o resultado foi o encolher forçado dos serviços públicos, a desregulação do comércio e dos capitais, o refazer da história, a linguagem e a moralidade da sociedade impondo uma liberdade total a tudo o que pudesse conduzir a lucros mais elevados.”

É claro que o previsível esgotamento dos recursos minerais, particularmente os energéticos, e as ameaças de alterações climáticas catastróficas, temas maiores da agenda ecológica, encaixam bem no processo entrópico: a actividade económica dá origem a novos produtos e a soluções para novos e velhos problemas (para as doenças, antigas e novas, a farmacologia e a bio-tecnologia, por exemplo) mas à custa da desestruturação de outros sistemas, o que, em última análise, conduzirá à morte do conjunto (recordam-se do Relatório do Clube de Roma e das propostas de “crescimento zero”? - veja aqui um resumo) Esta foi uma das hipóteses desenvolvidas por Georgescu-Roegen e apresentada no seu livro “La décroissance. Entropie - Écologie – Économie”, cujo texto se encontra disponível na net neste site. Veja-se também o modelo da ampulheta de Georgescu-Roegen (clicando no desenho).

Tudo isto parece simultaneamente muito poético e pouco científico, particularmente devido ao empenhamento pós-moderno nas novas praxis. Mas não deixa de merecer um olhar atento.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá, sou aluno do quarto ano de física na USP e li seu texto.
Não tem o que comentar para tamanha asneira. Não tem sentido físico do começo ao fim o que você escreveu.
Ainda bem que a sua física não constrói os prédios que eu vivo e nem os elêtronicos que eu uso.

Diego

Joao Augusto Aldeia disse...

Caro comentador, agradeço o seu comentário, mas tomo a liberdade de chamar a atenção para o seguinte: descrevi sumariamente uma dada teoria, e acrescentei a minha opinião - «Tudo isto parece simultaneamente muito poético e pouco científico».
E é esta minha opinião que o caro comentador classifica como "asneira»?

Fluxo de Caixa disse...

Obrigado pelo post, não podemos associar isto à física, mas faz sentido. Obrigado.