
Ao contrário das manifestações convocadas boca-a-boca, que apanhavam a polícia de surpresa, esta tinha sido convocada com antecedência, através de pinturas nas paredes, autocolantes e panfletos. Portanto a polícia ía estar lá à espera dos manifestantes.
À hora marcada (19 horas, creio, já lusco-fusco) um grupo avançou para o centro da Praça, alguns de barra de ferro na mão, entre eles a Ana Gomes. Foi uma escaramuça confusa e breve, a manifestação não chegou a arrancar. O sítio estava pejado de polícias à paisana e várias pessoas foram presas. Alguns dos desanimados manifestantes juntaram-se numa rua próxima (Rua António Pedro, paralela à Almirante Reis). Ana Gomes sangrava abundantemente: atirara-se a um oficial e este agredira-a com o pingalim, rasgando-lhe o lábio. Os amigos queriam levá-la para o hospital mas ela insistia em que tinha de se fazer a manifestação de qualquer modo, mesmo só com aquele grupo: eram uns 10 ou 15.
E assim foi: o pequeno grupo arrancou pela rua abaixo gritando palavras de ordem, numa altura em que o dia já tinha escurecido. Mas a marcha durou pouco: no cruzamento com a Pascoal de Melo, já próximo da Portugália, um polícia sacou da pistola e deu uns tiros para o ar, dispersando o protesto.
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