segunda-feira, setembro 07, 2009

     Concordo com esta análise quanto ao argumento de que o crescimento monetário é sustentado por um esquema do tipo "pirâmide"; mas não concordo que seja a mesma coisa que empurra o crescimento económico; nesse caso há uma "tragedy of the commons": genericamente os indivíduos encaram os recursos do planeta como recursos comuns (ou seja, pertencem ao ser humano — não aos animais, nem a Deus, nem a gerações futuras) e gratuitos (excepto quanto a uma pequena taxa para quem detém temporariamente a sua guarda). O que impulsiona o crescimento é a vontade de usufruir de mais coisas boas (sejam elas consumos supérfluos ou mais e melhores cuidados de saúde, mais bens culturais, etc.) O ser humano sempre foi impulsionado por isso, porque haveria de mudar agora? E o paradigma do crescimento não começou na era moderna: ocupar um ecosistema, crescer até esgotar os recursos e passar adiante: isso vem desde a pré-história. O que foi mudando foi a tecnologia, e o facto — subsequente — de nos aproximarmos do limite planetário em termos de exploração de recursos. Mas o sistema reequilibrar-se-á, ainda que de modo trágico.
     Também não concordo que a Economia não seja uma ciência: tem tanto de observação externa, medição rigorosa e método científico como qualquer outra ciência (com excepção das "ciências jurídicas" e "do jornalismo"); tem igualmente muita subjectividade e ideologia, mas disso também as restantes ciências sofrem.
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11 comentários:

Anónimo disse...

De repente, muita gente questiona a cientificidade da Economia. Ainda há pouco lia que, não a propósito do momento da "fraqueza" da economia, em última análise, a única ciência seria a Física e explicavam porquê. Parece-me que a questão é tão insistentemente colocada porque nos últimos tempos (décadas) os economistas (os que contam) embrulharam a sua "ciência" em roupagens tão rigorosas que até aprecia uma "ciência" asséptica. Há muito tempo utilizava-se frequentemente termo "Economia Política" e dizia-se nos estudos elementares (como os meus) que a Economia era uma ciência de tendência ( ou qq coisa como assim).

Como o autor do post, também acho que o Sistema se reequilibrará. Esta minha "teoriazinha" até me ajuda a suportar os desvairos a que assistismos no Mundo, no País e na nossa rua. Veja-se a posição de muitos sectores (muito morais) acerca do controlo da natalidade, o descalabro dos incêndios, o incremento na produção de resíduos ( ao mesmo tempo que, hipocritamente, se apela à reciclagem..) etc. etc . etc. mas, a Natureza encontrará um equilíbrio. Pode não haver raposas, rinocerontes etc. mas haverá equilíbrio nem que seja com bactérias, insectos etc. Portanto, eu estou tranquilo!

Ana Paula Sena disse...

Bom, eu gostei muito da forma clara e objectiva como o vídeo explica algumas questões que inquietam actualmente.

Não compreendendo efectivamente todos os mecanismos económicos que explicam as crises e saídas das crises, mas gostaria de ter algumas certezas quanto à continuidade do crescimento económico. Mas se acontecer, de facto, um esgotar de recursos, como continuar esse caminho de desenvolvimento? Possivelmente, de modo trágico, como referiu.

Por outro lado, as suas últimas palavras introduzem a pertinência da reflexão sobre a ciência (digo eu, de uma área não tradicionalmente científica) e respectivos critérios de cientificidade.

Pessoalmente, tenho grande respeito e confiança na ciência e nos que a ela se dedicam.

Joao Augusto Aldeia disse...

Por este andar os recursos esgotar-seão em poucas décadas. Já nos anos 70 o Clube de Roma tinha feito projecções neste sentido, que seria interessante serem actualizadas, mas parece que se optou por ignorar o assunto.

Pode haver uma saída: a descoberta de uma fonte de energia mais barata, como a fusão fria, por exemplo. No meio científico anda a discutir-se ainda a validade da experiência de McKruber - recentemente o programa 60 minutes abordou o problema:
http://emcatharsis.blogspot.com/2009/09/vantagem-das-incertezas-ilya-prigogine.html
a Economia tem na sua história uma previsão catastrófica que falhou: a de Malthus (população a crescer em progressão geométrica, alimentos apenas em prog. aritmética). Falhou porque não previu o potencial de processar industrialmente os alimentos, os aumentos de produtividade agrícola, etc.

Quanto aos limites da Ciência, eles existem na Economia como em qualquer outra área. O video de Prigogine no blog Catharsis caracteriza bem isso
http://emcatharsis.blogspot.com/2009/09/vantagem-das-incertezas-ilya-prigogine.html

Mas eu acredito até em algo mais radical: nós não podemos aceder à realidade. Um exemplo: há 4 cadeiras e uma mesa na sala; será que todos os indivíduos que lá estejam observam a mesma coisa? Não, ainda que sejam cientistas munidos de aparelhos de medição sofisticados. Podem medir certas amplitudes, mas "cadeira" e "mesa" (ou mesmo "objectos") são conceitos subjectivos. Para coisas simples a subjectividade não é tão grave (a gerar visões divergentes), mas a realidade só é apreensível pelos humanos através de uma multiplicidade de conceitos, alguns bastante abstractos, e relativamente aos quais não pode haver uniformidade de percepção.

Sinais disto são conhecidos há muito tempo: várias pessoas observando uma cena contam versões diferentes do que viram. Em geral, vemos o que "queremos" ver, ou o que "esperamos" ver: pode ser algo positivo, ou algo negativo, como a percepção de que "o mundo está perdido", "está pior", rábula repetida por geração após geração.

Há também um caso famoso no cinema: Bunuel fez um filme em que, entre cenas (por vezes na mesma cena), troca uma loira (Carole Bouquet) por uma morena, no mesmo papel. Pois há quem tenha visto o filme sem dar pela diferença.

Ana Paula Sena disse...

Sem dúvida podemos considerar o olhar sobre o mundo a partir de uma subjectividade ilimitada. E, nesse caso, a actividade económica também será influenciada, ou mesmo determinada, por esse tipo de factores de natureza subjectiva, ou de auto-sugestão.

Parece-me uma interessante forma de abordar o problema. De resto, ainda não consigo deixar de me surpreender com o facto de muita da riqueza criada ser apenas virtual. Quando me apercebi disso, fiquei verdadeiramente impressionada. Passe a minha relativa ingenuidade, o caso é que poderá ser então toda uma auto-sugestão incentivada do exterior, e concretizada por processos internos ao sujeito, aquilo que estará na base de percepções como a de "desorientação", crise, superação da crise, etc.
A ser assim, a complexidade do todo em questão ainda me parece maior.

Fusão fria - conheço mal a alternativa, embora já tenha ouvido falar. Mas fiquei bastante curiosa sobre o assunto. Obrigada, João.

Anónimo disse...

Com tantas equações noa artigos da American Economic Review a Economia só pode ser uma ciência.

Joao Augusto Aldeia disse...

Eu acrescentaria: com tantas equações nos artigos da American Economic Review, a Economia só pode ser uma ciência oculta.

Unknown disse...

Tudo é ciência... principalmente economia.

Achei o vídeo muito interessante.

Parabéns pelo POST.

Antonio Petrus Kalil Filho

Unknown disse...

Ciência. O que é ciência?
Se buscarmos na economia características da ciência positivista, exata, estática, com leis gerais, não enxergaremos em nenhuma "ciência" social razão para denominá-las dessa maneira.

O que Richard Heinberg quer dizer com filosofia moral é que a Economia, enquanto campo do saber, tem dia, hora e local de nascimento, registradas em cartório Inglês. Ou seja, os primeiros esforços "científicos" da economia se deram a partir de uma realidade cultural e racional, exata, podendo apontar logicamente apenas em uma direção: A da racionalização dos experimentos europeus, sendo, portanto, cientificamente limitada no berço.

Quanto ao fim dos recursos naturais, essa própria filosofia moral, tem como um de seus principais pilares o desenvolvimento científico, o qual com certeza nos trará mil e uma maneiras de se explorar formas de energia que permitam a manutenção do crescimento econômico, sujeito ou não à inflações ou deflações.

Paralelamente, existem, a partir da difusão e tentativa de universailzação dos conceitos econômicos (liberais, marxistas, anarquistas) discussões e políticas que remodelam e redirecionam a filosofia moral, ou ciência, ou campo do saber, para caminhos de sustentabilidade, ou no mínimo menor predatorização planetária, exclusivamente na medida em que esta se torna prejudicial ao lucro.

E sim, o paradigma do crescimento econômico é sim fruto da era moderna. Enquanto saber científico, moral, ou qualquer nome que se dê ao início da racionalização formal da economia.

Lucas Carames

Anónimo disse...

Ola, tudo bem?

Parabens pelo "Pura Economia", os artigos sao realmente muito bons. Coloquei um link para ele la no meu blog, o http://economia.bicodocorvo.com.br/. Se puderem, gostaria de um link de volta.

Abracos e muito sucesso com o site,

Rafael Coutinho

Diego de Paula disse...

Tudo bem, os recursos podem ser infinitos (e são), mas as idéias humanas não são infinitas, por isso sempre haverá uma reinvenção de como usar os recursos e como recriáa-los. Isso sustentará a teoria economica por toda eterninadade.

A economia é sem dúvida uma ciência, acho tolice questionar isso. As Ciências Econômicas explica o mundo como é. Agora pergunto: O que faz uma ciência se não explicar o mundo??

Anónimo disse...

O racíocinio do entrevistado é falascioso no momento em que associa a geração de riqueza ao consumo de recursos naturais, visto que o sistema de produção de riqueza tende a mover-se a esfera financeira, a qual subemete a esfera produtiva. Dessa maneira a riqueza é produzida diretamente a partir do capital, sem passar pelo processo produtivo (D-D´ e não D-M-D´). Portanto esse sensacionalismo apocaliptico profanado pelo entrevistado é mais uma pueridade insulsa.