sábado, janeiro 15, 2005

"Não te cures, não!..."


Existem indicadores estatísticos de natureza ambivalente: tanto podem significar uma coisa como o seu contrário. É o caso do número de documentos emitidos por uma determinada repartição administrativa: o aumento do respectivo número tanto pode significar que se está a trabalhar mais e melhor, como também pode signifcar que está a complicar e a burocratizar a vida dos cidadãos.

Os dados sobre a despesa pública em comparticipações de medicamentos apresentam a mesma ambiguidade. Segundo informações recentes [notícia aqui], em Portugal o crescimento da despesa pública com medicamentos voltou a disparar no ano passado: um acréscimo de 9,2 %.

Isto tanto pode significar que as pessoas estão melhor tratadas e, por essa via, eventualmente mais saudáveis, como também pode significar que estão mais doentes, e portanto a necessitar de mais medicamentos.

As explicações dadas por "especialistas" não convencem: dizem que o grande impacto dos genéricos já se verificou em anos anteriores, e que é por isso que a despesa volta a disparar. Acontece que esse efeito não é dos que "andam para trás". O que é normal é que vá aumentando o consumo dos genéricos (mais baratos para o Estado), ainda que a taxas inferiores às do período da sua introdução.

Outra esplicação é a da "transferência da prescrição para moléculas onde ainda não existem genéricos (medicamentos novos)" - "É o caso de um remédio para a trombose, que cresceu 319,7 por cento, ou de alguns medicamentos para a osteoporose, que duplicaram as vendas". Ora bem, se são medicamentos novos, como é que é possível determinar taxas de crescimento anuais ?

Enfim, ficamos sem saber o que é que os números querem dizer.

O mais curioso da notícia, no entanto, é a declaração do secretário de Estado da Saúde, Patinha Antão, que "quer duplicar a quota de mercado dos genéricos nos próximos dois anos", embora não tenha explicado como. Mas então afinal a coisa "normalizou" ou não "normalizou" ? Tem a sua piada, a conversa deste governante, como se fosse ficar no lugar mais uns anitos (trata-se do mesmo cromo que, numa presiência aberta de Sampaio no Algarve, não percebeu uma piada de um dos médicos sobre haver "pacotes turísticos que incluem consumo de droga", tendo tomado logo a palavra para dizer que o governo iria imediatamente investigar a coisa...)

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